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Trechos, textos e trecos

sexta-feira, outubro 29, 2004



Rita estava livre. Livre de seu cativeiro auto-destruidor. Não teria mais que continuar aquele relacionamento sem sorte. Seu corpo ainda sentia o resto do gosto daquele homem. Assunto pra resolver com o próximo. Ia acontecer. Não foi o primeiro fim que vivera. Vida nova, inteiramente nova. Uma hora se pegou cantando Maria Bethânia de uma maneira totalmente entregue, cheia de autoridade de mulher. Quando as letras da Bethânia começam a fazer sentido na carne, a maturidade se instalou, definitivamente. Já cantava até Gilberto Gil : "Tempo, tempo, tempo, tempo"... Tudo passa. É a impermanência. As horas, os dias, as estações. Está tudo em constante movimento, como dizia Heráclito, o zenbudismo, o budismo de qualquer origem, a própria existência, toda a filosofia... Tudo transcende o momento.Todo antes já foi futuro. Todo agora já foi futuro. Tudo o que vier será passado.

domingo, maio 16, 2004

É preciso coragem para se despedir. Tá feito. Ele veio perguntar por que eu estava assim... "Assim", como? Não que eu não soubesse, mas tinha que ter certeza da reclamação dele.
Eu tinha dado uma brochada em viver, e isso é coisa que volta e meia se repete quando fico querendo que as coisas façam algum sentido. Cansei de forçar um personagem feliz pra ele, uma parceira amorosa. Nosso relacionamento durava dois anos e meio, aos trancos e barrancos. Afinal, a tendência é ruir, estamos sempre indo em direção à podridão, é o ciclo da natureza. "Tempus Edax Rerum" - o tempo a tudo devora. Ele queria que eu me explicasse, que eu dissesse o que aconteceu. O que teria acontecido? Teria eu resolvido me entregar à verdade, simplesmente? Teria eu apenas sucumbido ao fim da relação? Detesto essa conversa sobre relacionamentos, mas fico ainda mais perplexa quando o que não é dito em palavras seja mais eloqüente que tudo o mais que eu pudesse dizer. Eu tinha lido uma frase de uma amiga que adorei: "Quero muito ser feliz... Mas dá uma preguiça". Ela não era a única. E eu não podia continuar aquela história preguiçosa. O cansaço falava através de mim. Tentei não produzir um texto pra dizer a ele como me sentia em relação a nós dois. Mas doeu. Dói ver alguém que te ama percebendo que está te perdendo, sentindo que já não tem mais lugar na sua vida e pedindo que você confirme essa suspeita assim na lata, sem anestesia. Não estava podendo anestesiar nada naquela hora. Não ia dizer que ele era a pessoa certa na hora errada; que não era ele, era eu; que eu não queria fazê-lo sofrer. Não, essas frase todo mundo diz. Mas servem para essas ocasiões, como dizemos "meus pêsames", "meus sentimentos" quando não temos o que dizer para alguém que perdeu um amigo, um parente, um amor. Quando o amor morre, o que podemos dizer? Que a vida é assim mesmo, que vai passar? Logo eu que trabalho com as palavras fiquei sem saber quais usar. Não posso estar com um homem como quem brinca de namorar, como quem quer apenas uma carne quente para a batalha da cama e do orgasmo. Não quero um vibrador humano, um boneco inflável vivo. Foi triste ver a decepção no rosto dele. Eu fiquei com a voz embargada e os olhos marejados. Ele viu que era sério. Mas ele não pôs um ponto final, veio tentando repetir o que sempre dizia, que achava que ainda valia a pena. E eu sem saber dizer que não queria mais. Queria que a relação terminasse por si mesma. Já falamos sobre isso. Não era o caso de mudar, nem de me adequar. Era o fim, a fechada de cortina. A luz apagando. E só. Levantei, peguei minha bolsa e olhei pra ele sem dizer nada. Andei até a porta, ele abriu e saí. Não
olhei pra trás. Fim. Às vezes a vida é teatral.

segunda-feira, janeiro 12, 2004

Não me esqueci


Que ninguém me lembre que eu sou mulher
Sei disso
Que ninguém me diga que mulher eu devo ser
Eu escolho


Só nos lembram que somos mulheres
Quando não podemos alguma coisa
Mas não somos loucas?
Esqueceram?
Se somos loucas, podemos tudo

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Poesias da idade



Coisa mais chata ver a decadência
do corpo no espelho
E isso não é poesia


A beleza da juventude
me põe a nocaute
em qualquer esquina


Minha beleza me custa
cada vez mais caro
Dói no bolso e na alma


Não me acostumo a estar acabando
Vejo meu corpo consumido pelo tempo
Sou eu me descorporificando
Virando morta
É o começo do fim – já sinto


Meu corpo inteiro reclama de existir
A pele resseca, o tempo traça linhas,
o cabelo perde a cor,
os olhos nem sempre brilham,
os dentes amarelam meu sorriso



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Vida dura e sem sentido,
que não nos permite sentir tesão no meio do dia
Soldados autômatos
de um cotidiano irreal,
de tempos surreais
E isso ninguém explica,
já que explicar complica
E é nada mais que
pura tristeza
E quem já sentiu conhece


Em pleno trânsito
tentamos esquecer quem somos
e fingimos ser felizes
no meio do concreto
e da violência



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Amo ele todo



Eu amo tudo nele.
Amo o polegar,
o sorriso largo,
os olhinhos apertados quando ele ri,
aquela ruguinha no canto,
a cicatriz da bochecha.


A mão toda, que me toca toda.
A boca toda,
que me beija toda.
O seu corpo todo, que me ama toda.
Estou viva e sinto isso. Que bom.


Nele amo até o que faz falta.
Os defeitos.
Por quê?
Porque amo-o.
E esse é ele;
não outro que não existe e eu invento.

E daí? 

Errei homens, errei muitos homens. Paguei preço alto por mercadoria barata. Experimentei quem não teria passado pela primeira impressão. Fui em frente, pulei obstáculos, atropelei alguns princípios meus para poder saber o que tinham os que eu não desejava. Precisava de umas carnes, sentia falta de um abraço forte, um corpo junto do meu, um beijo bom, sexo com algum tesão. E achei que fosse conseguir onde não havia ainda procurado, nos homens errados. Podia não ter dado o primeiro sorriso incentivador de aproximação, não ter chegado meu rosto pra perto dele, não ter sentido aquela respiração, o ar quente dele na minha boca, podia não ter fechado meus olhos, não ter seguido em frente como quem fraquejava. Deve haver alguma explicação para as escolhas insensatas que fiz, mas eu sempre consegui aproveitar alguma parte delas. Serviram de coragem para novos erros. Algum entusiasmo da carne sempre havia. E por que não? À certa altura até foi bom, quando já não questionava minha escolha e apenas sentia as mãos, o corpo, a boca errada em mim. Alguma sensação eu senti. Sofrimento vitorioso de quem fazia o que escolhera fazer; aquele gosto do premeditado realizado. Os homens comem qualquer uma que passa e ninguém repara, agora, as mulheres... A gente erra de homem sim, e daí? Pior seria não reconhecer o erro e defendê-lo como se acerto fosse. Não eram homens dos quais me orgulhasse. Um deles é gente boa e acredito ser de algum valor, mas não me serve. Só passamos duas noites juntos; não houve tempo para intimidade verdadeira, mas o potencial era grande. O potencial e o que você está pensando. Um outro não evoluía tão bem, mas me deu algum calor na cama - não nego -, nada que me tirasse de mim, é verdade. Chego a achar engraçado que outras mulheres se interessassem por aqueles homens que eu tive sem muita disposição. Será esse meu querer quem não me atrai uma rivalidade feminina tosca? No meio do caminho tudo pode mudar. O que parecia ruim muitas vezes foi bom. Pra que complicar? Quando o motivo é sexo, qualquer desculpa se aproveita. Uma oportunidade interessante e estamos lá. Nem sempre foi assim, no começo eram só tesão e timidez. Uma moça bonita, mas vazia de si. Depois foi tempo de aprender, de curiosidade e de aproveitar o momento. Os momentos. Mal dava tempo de viver aquilo tudo. Mas quando queria sexo ou aventura, sempre tinha a quem recorrer. Desculpe a falta de modéstia. Hoje ainda conservo essa fome. Mas não pratico tanto. Nem comigo mesma. Sublimo lendo filosofia, psicanálise e literatura. Construí muita memória. Fiz algumas loucuras só pra me lembrar depois. Ainda bem. Quando vejo que estou sozinha, saldo de algumas uniões fracassadas, penso que só podia ter sido assim mesmo. Nunca liguei muito para os sentimentos dos companheiros,parceiros, comparsas, e nem para mim, eu acho. Fui vivendo como quem improvisa sem muito cuidado.Quebrei a cara algumas vezes. Estou inteira de novo.



       Cansei de racionalizar minha negligência comigo mesma; pus fim`aquele namoro. A agonia cresceu até ficar insuportável. Queria estar sozinha, pensando, vegetando, deprimindo, existindo do jeito que desse. Eu me sentia roubada, me sentia uma fraude de mim mesma quando estava com ele. Era uma relação esquisita, não era autêntica com seus sentimentos, era a maior violência que já havia cometido comigo. Caso terminal de auto-sabotagem.
     

domingo, setembro 28, 2003

Fazer o que você sonha caber na sua vida

A depressão pode ter acontecido porque você não está satisfeito com a sua vida. E quando ela acontece não dá mesmo para estar satisfeito...
Você se sente mal com o que tem feito, com o que não tem feito; é isso. São várias coisas que podem estar te perturbando. Mas quando você segue seus planos, se adapta ao que a vida te dá, altera seus projetos de um jeito que seja possível realizá-los, você se sente no controle.
Eu estou bem. Porque estar bem é assim, é se sentir bem do jeito que dá, do jeito que as coisas estão e não aquele estar bem da fantasia, perfeito. Eu me sinto bem, porque estou em dia com meus projetos, fazendo o que planejei dentro do que as circunstâncias me possibilitam sonhar. Estou indo em frente, vivendo com menos ansiedade, sem pressa, aceitando a rapidez da vida e a lentidão do dia. O tédio e o remorso... O efêmero e o que não acontece. Essas questões eu pus de lado agora. Estou me dedicando a fazer o que tem que ser feito. E tenho feito. E tem sido ótimo resolver meus problemas. Assim me sinto no controle.

As pessoas usam a palavra depressão sem cerimônia nenhuma. Acham que qualquer angústia, qualquer mal estar existencial, qualquer decepção é depressão. Depressão não é tristeza, não é ser sensível, não é emotividade fora de hora, não é um monte de coisas parecidas com o que lembrei agora. A depressão não pode ser definida assim, de qualquer jeito, e não se deve brincar com ela. Ou melhor, se você está conseguindo brincar com ela talvez nem esteja deprimido. Não se preocupe em diagnosticar sua tristeza, se a vida está chata, aceite que a chatice faz parte da vida, e nem todo dia faz sol. Mas a qualquer momento você poderá se sentir melhor, mesmo sem estar preparado para isso. Na verdade, basta fazer as pazes com a vida, aceitar sua condição de pessoa comum, com uma vida comum, de beleza comum. E isso já é o sonho de muita gente. Uma vida simples e comum.
Temos que parar de maldizer a vida que temos, de resmungar contra o cosmos. Podemos começar a realizar nossos projetos hoje, daqui a cinco minutos, nesse instante até. Se você pensar no que tem que fazer para pôr sua vida em dia e começar a resolver seus problemas, vai tirar um monte de entulho do caminho e começar a vislumbrar um futuro. Vá abrindo espaço, como a draga que retira a areia do caminho... Vá arrumando seu mundo para você acontecer melhor. Não adianta ficar triste, deprimido, cansado de viver. Descanse, se alimente, se banhe, se arrume e comece a fazer o que tem que ser feito; o depois vem com o tempo.
Acho que ser feliz é uma forma de humildade, a forma mais sábia, talvez. Conseguir ser feliz é mudar o conceito do que é felicidade. Você pode ser feliz daqui a cinco minutos, se quiser. Não precisa pensar em todas as mazelas que você não tem e minimizar todas as que você tem, isso é se chamar de burro. Mazelas, todos temos; o importante é saber viver sem que elas te incomodem mais que o suficiente para que você as extermine. Não arrume novas mazelas, resolva o que pode ser resolvido e volte o olhar para o que pode ser criado agora para te fazer mais feliz.
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Estranho constrangimento

Ah, se eu soubesse sambar. Talvez expressasse assim meu contentamento com a vida. Por que deveria me contentar, ou por que não deveria? Tenho que esperar que a vida ande para todos para me sentir feliz de viver? Por quê? Deveria ficar constrangida de ser feliz? Deveria me excluir do mundo para me sentir bem em quem sou? E onde a felicidade seria possível? Na estratosfera? No éter?
Tem gente que pensa que a felicidade é possível no álcool, no sexo rasgado... Seres sempre predispostos à autodestruição. Surgindo uma oportunidade... Se ela não surge, acendem um cigarro e criam mais uma chance de se impregnar de morte ainda em vida. Isso pode não ser felicidade para mim, ou para mais alguém que sinta todos os autênticos sabores ruins que a vida permite, como quando alguém tem que nos deixar por expiração de seu próprio tempo de existir ? prazo estipulado sabe-se lá pelo que ou quem.

Se tudo passa, a vida vai junto e isso não deveria ser de se estranhar. O que é estranho é que o ser humano seja tão infantil quando o assunto é morte. Se foi com o vizinho, se lastima e segue-se o tempo. Se foi perto da gente, fica estranho o confronto com o tempo expirado. Sei não.

Outro dia meu pai, aos 73 anos, disse que está na marca do pênalti. Olhei para ele totalmente sem ter o que dizer. Ele que já enterrou a mãe, a irmã mais nova e agora assiste como médico e irmão o irmão também mais novo mal da saúde... Não sei como poder dizer ao meu pai que ele não está na marca do pênalti ? se eu mesma me sinto assim desde que me dei conta de que sou mortal; desde quando sofri com isso pela primeira vez, lá pelos meus 13 anos de vida.
Pai, nem você pode mudar isso. A morte sempre faz gol quando o assunto é a vida, seja a sua, a minha, a do pincher que a gente teve e nos deixou aos 12 anos... Seja até com o meu filho, que já chegou ao mundo quase se despedindo e a gente conseguiu segurar na vida até hoje. Estamos todos vivendo na extensão, já que a morte é sempre chegada (ela é nosso pior credor). O que posso te dizer é que te choro desde já, desde que soube que a vida é assim. São chegadas e partidas de pessoas que vivem o suficiente para esquecer que têm que pagar a vida com a morte, e que quando já começavam a nem ligar para isso começam a ter que ligar por decurso de prazo.
O que dizer quando as palavras faltam? Quando somos ineptos para explicar o que não queremos acreditar? Não queremos acreditar nunca que teremos que nos separar do outro que amamos. Que teremos que nos separar da vida uma hora qualquer. Na nossa hora.

Epicuro falou bem sobre a morte, quando a explicou como não sendo nada para quem vai, que se já não vive, também não lhe sente o peso. O peso fica em nós que ficamos aqui.
Se muito já foi dito sobre a morte, não preciso dizer mais nada. Mas digo mesmo assim, porque morte é assunto que nunca se esgota.
Quando você for, quem vai morrer sou eu, já sinto, nem que seja morrer de tristeza. E isso basta para explicar pobremente o que nem toda riqueza conserta. Porque quando o assunto é morte, a gente nunca fala melhor que a tristeza que nos cala. E é assim que tem ser.
Ninguém pode falar melhor de morte que a própria morte. Ela é sempre soberana. Quem pensa que não, espere e verá.

quinta-feira, setembro 25, 2003

De repente estar dançando Luka, de Suzanne Vega, me esclarece que sou feliz. Sou feliz – ó eu aqui dançando toda.


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Aos 30 e tal é quando a beleza, a sabedoria, o tesão, a liberdade, a poesia e todo o resto da vida se encontram. São os melhores momentos da vida… Vou compreendendo a vida do meu jeito.
Com a batata frita na mão, por hora, tenho tudo o que preciso para ser feliz. Esse é um ponto zero. “O começo do resto”, como já disseram, e não dou autoria de frase pela metade, cujo autor desconheço principalmente.

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Se eu já fiz isso?

O que eu fiz não tem nada a ver com você. Não serve como nenhum tipo de garantia. Se fiz, não significa que vou repetir ou que nunca mais farei (posso ter gostado!). Se não fiz, pode significar que vou querer experimentar ou que continuo não querendo.
Logo, tanto faz a resposta no que te diz respeito. A minha resposta não teria nenhum resultado prático e não estou aqui para te dar certezas, nem satisfazer suas curiosidades. Isso é falta de educação.


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 Lembro de um personagem do Hermann Hesse que sentia a vida mais tranqüila quando o taco do chão da vizinha reluzia e cheirava à cera recém-passada.
Limpeza é quase beleza, aconchego é quase amor. Com limpeza e aconchego a vida anda melhor.
E o feng shui já diz isso há muito tempo.
O mundo inteiro parece dizer as mesmas coisas.

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“A vida é uma piada” (é piada engraçada, sem graça ou daquelas que a gente não entende direito e finge que entendeu?).

Ficar constatando o tempo todo o que é a vida, ficar tirando essa ou aquela conclusão não serve pra muita coisa. Definir a vida, que a cada hora tem uma cara e um sabor, é trabalho sempre provisório. Nossos humores dão a resposta que quiserem à velha pergunta “o que é a vida?”.
Eu pensei agora que a vida não é mais nem menos do que o espaço que ocupamos enquanto existimos, isso quando é da nossa vida que falamos. A vida não é nada, e é algo que só existe quando a utilizamos. A vida é o que vivemos.
A vida pode não ser nada disso também, já que quem não vive, não comete ações enquanto respira, não deixa de ter uma vida, já que o coração bate e os pulmões seguem trocando os gases do sangue.
Mas pra que saber o que é a vida? Quem sabe poderíamos tentar responder o que está a vida... Essa é a primeira etapa de um problema maior, saber o que fazer com ela e entender o que ela pode fazer com a gente.
Estou usando verbos fortes, saber, fazer, entender. São muitas as pretensões. Não tem problema, não quero respostas, vou perguntar mais: pra que tanta pergunta? Pra que tanta vontade de saber?
A resposta que mais gosto - e é assim que escolho minhas respostas - é que ficamos perguntando pelo que não faz sentido, para ocuparmos com uma resposta que não é producente um espaço que não deveria ser preenchido com nada. A não-resposta é a melhor resposta. Não interessa!
Em Candido, de Voltaire, o personagem principal muito orgulhoso de estar questionando a vida, virando um filósofo, perguntou a um mestre da sabedoria se não era bom estar sempre querendo saber da vida, de seu significado, querendo entender o mundo e viver melhor, blá blá blá.... O sábio em pé diante da porta deu a melhor resposta, bateu a porta na cara dele. É a melhor passagem do livro pra mim.
Que infantilidade a nossa querer tantas respostas. Que arrogância. Isso é quase burrice. Não precisamos dessa resposta pra nada, e há muito mais o que fazer na vida do que responder a ela. A resposta vem das nossas próprias ações...


“O que é a vida?” - fazer essa pergunta é uma resposta. Digitar esse texto que invento é outra. Comprar tomates, lavar o chão da cozinha, escovar os dentes, dar um beijo na boca, soltar um pum, gozar... Isso tudo responde. Isso tudo é a vida. Entendeu?


Você não sabe nada da vida se precisa responder o que é a vida com uma resposta. Responda com várias, com qualquer uma que você queira e que faça sentido pra você, ou até que não faça sentido algum, porque me parece que a vida pode ser uma piada sem sentido. Mas não temos pra onde escapar. Ou melhor, a outra opção é a morte, que nem opção é, já que temos um compromisso com ela depois de algum tempo tentando entender essa primeira parte, esse antes da morte, que chamamos de vida – e quem sabe isso já sirva de resposta...

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Vida, sala de espera da morte.

Vida, contagem regressiva inacabada para a morte.


Colocaria essas opções num dicionário de palavras sem sinônimos...


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Isso está com cara de aula de filosofia popular. Mas, toscamente, podemos chegar a nossas conclusões. O ser humano vive chegando a conclusões de toda espécie, e a maioria não é mesmo dotada de cientificidade. Mas a gente acha que tudo o que pode ser pensado pode ser demonstrado e explicado. Nem sempre é assim. Podemos pensar muita coisa que não tem respaldo lógico... Muita coisa que não iremos tentar realizar. Muita coisa que não serve pra nossa vida prática ou pra nossa prática de vida, que aqui parece soar melhor.
E já me sinto migrando do assunto vida para os temas pensamento, e vizinhos, imaginação, fantasia...


Ainda bem que podemos pensar o sem sentido, perguntar pelo que não tem resposta, entender o que não tem explicação, fantasiar o que está sem graça, ver graça em coisas simples... Como a folha que ontem caiu em slow motion (ou câmera lenta pra quem é purista) na frente do meu carro, quando eu ia parando no sinal vermelho. Foi es-pe-ta-cu-lar. Caindo, caindo, passeando na frente do meu carro pro meu mais puro deleite. Era uma resposta que a vida estava me dando, resposta a uma pergunta que nem fiz... Era a natureza vivendo sem ensaios... Outro dia a natureza foi ainda mais enfática quando soltou uma folha amarelada de amendoeira sobre a minha cabeça. Não, não fiquei chateada com a sorte quase ridícula. Era a vida querendo minha atenção, e foi isso o que dei a ela.
Às vezes a vida só está querendo a nossa atenção.


Ou é a gente que está se dando importância demais, quando não se enxerga apenas como a folha que cai da árvore na hora certa, com toda a sua sabedoria. Nós já sabemos tudo o que precisamos saber para cairmos da árvore.

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Lembrança de um dia de verão que não aconteceu. A expectativa era de um dia de sol com céu muito azul, vento na medida e mar frio, encrespado e prateado, mas sem ondas fortes. A praia, Geribá, em Búzios, no meio da semana. Um dia longo, como os muitos que vivi na adolescência e no início da vida adulta, com pouco mais de vinte anos. Agora, são retratos mentais que ficaram. Ainda terei meu dia de semana naquelas areias, num cenário que dói de maravilhoso. Foi ali que passei toda minha vida de solteira (vida de solteira - que expressão ridícula), com as melhores e as piores lembranças que criei para mim.
Hoje nem me sinto mais gente dali. Minha casa ficou fechada por muito tempo, depois passou a ser alugada para temporada e acabou sendo mais dos inquilinos que da minha família. Búzios ficou mais longe e a gente passou a ter menos tempo para descansar. Depois que a casa virou renda extra, não demorou para ter status de renda fixa, e aí outra casa foi construída, na rua de trás da praia, bem menor, mas ainda em Geribá, em Búzios!
É bom saber que tenho ali uma casa sempre vazia para onde posso ir, mesmo sem poder ir nunca. Mas não tem problema. Entendo que estou vivendo outras prioridades, prioridades que assim se tornaram porque foram delegadas a segundo plano por tempo demais. E sobre o que fiz ser chato prefiro nem falar.


Andei confusa, navegando a esmo pela vida, sem saber para onde ia, para onde ela me levava. Boiava em círculos, em espirais... Deixei meus sentimentos nas mãos de homens errados, me envolvi com pessoas erradas, atravessei meu ritmo, até que resolvi me orientar de novo, voltei para a saúde, com disciplina e boa vontade comigo. Não estou mais ao sabor da correnteza. E não há correnteza que favoreça quem não sabe aonde quer ir.
Hoje sei que o doce da vida tem que ser buscado em mim. Não adianta olhar em volta e achar que está tudo errado. E eu, estou certa? O que tenho feito comigo e com os que dependem de mim? Viver dá um trabalho danado e não cometer o próximo erro é o melhor que podemos fazer. Ficar de olho no aqui e agora, não só budisticamente falando, mas evitando novos problemas. Não adiar a vida. Não podemos adiá-la, porque depois não há como usufruir o tempo não vivido.
O tempo não vivido – o que é isso? Não sabemos. E o melhor é não termos que nos preocupar com essa pergunta. Pergunta que só fazemos quando algo saiu errado. Não ser feliz é resultado de uma vida mal vivida? Ser feliz é responsabilidade nossa? O que é ser feliz? O que te faz feliz? Ser feliz é a ausência de sofrimento, como bem disse Schopenhauer. Sempre ele, meu filósofo preferido, não só pelo que diz, mas pelo que compreendo.

Filosofia é legal, mas às vezes torra. Essa eterna racionalidade sobre a vida... Será que a vida é mesmo para ser compreendida? Só quem não sabe viver precisa entender a vida. Quem a vive direito já sabe o que ela é por instinto.

Queria viver a vida como quem sabe o que é certo e errado, como quem nem se preocupa em decidir o tempo todo o que fazer, como quem não trava diante dos pequenos problemas e não os deixa crescer e virar problemas para a vida inteira, como sempre faço com os meus. Saber esquecer o que viveu, saber que o que viveu não mais te pertence. Deixar de conversar a vida e vivê-la com sabedoria. A vida me dá náuseas, e lendo aqui e ali soube que deu em Sartre também, deu em Clarice Lispector, deu em Henry Miller, em Hermann Hesse - ou em seus personagens, sei lá. Deu em Voltaire, em muita gente boa que um dia se pegou vivendo e estranhou...

E a vida virou assunto de livro de auto-ajuda. Detesto esse rótulo. Detesto rótulos. Auto-ajuda... Que termo miserável para um assunto tão importante. Que coisa de mau gosto. Eu que comecei me ajudando com Carlos Castañeda e Clarice Lispector, que comecei a ler filosofia lá pelos 19 anos. Vejo que tem muita gente lendo o que não deve, dizendo o que não sabe, querendo se auto-ajudar com lixo literário.
Não que eu não seja meio trash, mas não quero ajudar ninguém a não ser eu mesma, e isso está difícil demais. Como pretender ajudar o outro a ser quem ele não quer ser? Como fazer alguém querer ser um pouco melhor? Quem resolve o que é certo ou errado no que diz respeito a estilo de vida? Cada um tem seu ritmo e suas possibilidades. Se a vida parece não estar dando certo, você que procure viver melhor, ver o que tem de errado com suas escolhas. Costuma ser isso. Mas não sou eu que vou escolher no seu lugar. Tenho o meu lugar para ocupar e isso já é um incômodo. Às vezes queria poder viver menor, mais quietinha, com menos dinheiro, com mais sabor nas pequenas coisas, e vejo, na primeira falta de grana, que fizemos da vida sem dinheiro algo impossível.


Destruir a própria vida é um direito de todos. Eu vejo pessoas se suicidando a prestação e não tenho como ajudá-las. Tenho que me ajudar, e esses que se destroem acham que estão fazendo a escolha certa. Cansei de mostrar que viver seguro é melhor, viver com disciplina e respeito por si mesmo é mais fácil e dói menos. O que posso fazer se o mercado da auto-sabotagem é tão forte? Cigarros, bebidas, drogas, comidas em excesso, sexo em excesso... Sempre existe um jeito da gente impregnar a vida de coisas que não nos melhoram o viver. Não sou eu que vou tentar convencer marmanjo de que sei viver melhor que ele... Isso é prepotência. Só luto contra a violência a terceiro; no mais, que cada um tente se cuidar melhor ou se descuidar como bem entender, mas deixem o vizinho em paz.


Não vou aqui ficar dizendo o que nem sei se penso, o que nem acredito. Não sei como lidar com a vida dos outros. Isso não é problema meu. Se quiserem minha opinião, tento entender e ajudar. Podem contar comigo, mas não me peçam para cair no buraco junto, porque eu tenho um buraco em mim, que é existencial, e não quero mais encrenca, não.



Aí, quer saber, estou pronta pra vida – quando é que ela começa? Já começou, né? Mas e aí, estar preparada serve para quê? Vai evitar novas decepções? Será que os que forem jogar comigo estão preparados também?Ou vou ter que me confrontar com a estupidez humana a toda hora? Vou, claro. E estar preparada é estar preparada para isso também. Não tenho mais tanta ansiedade em ver as coisas darem certo, sei que às vezes não dão. E também temos que saber usar o erro como ponto de partida para algo melhor. Temos que ter criatividade, saber relevar o ruim, ou o mundo maravilhoso que procuramos nunca será possível. O impossível é uma meta imaginária para um caminho possível. Comecei a me perder nas palavras, ou elas começaram a ser incapazes de dizer o que sinto. Nunca soube me expressar direito, nunca consegui me interpretar rapidamente. A pressa menospreza os detalhes e distorce a verdade, disso já sei. E vou despejando palavras, como quem joga leite fora para ficar só com o soro. E essa foi uma comparação infeliz. Não estou mais conseguindo dizer nada. Daqui a pouco virá o melhor. O que não pretende dizer nada e diz. O essencial e incompreensível de mim.
E cá entre nós, de onde tirei a idéia de que minha vida possa interessar a alguém se mal interessa a mim mesma?

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Gripe e poesia

Estou gripada, congestionada e ri quando usei a palavra congestionada – sou congestionada, tenho uma vida congestionada de acontecimentos, tarefas, pessoas e pequenos problemas, e quando me pego gripada sinto um mal estar quase existencial – como a náusea de Sartre. Uma gripe existencial, antes de ser na carne – que é mesmo onde tudo dói afinal.
E, estando frágil, fico sensível (não sinto essas palavras como sinônimas, se você as sente, descarte a que preferir – preferir descartar, claro), poética, triste e feliz da vida. Sorrio e choro com mais facilidade e já não respiro direito, porque o ar não passa pelo nariz com facilidade. Mas o coração está cheio de vida e minha cabeça vazia de idéias – e é assim que eu gosto dela, detesto ter idéias demais, perguntas demais, respostas demais (fica parecendo uma sabatina interna). Quero estar mais vazia para poder me sentir mais plena da minha essência.
E sinto a vida ser bela sem ser clichê.

(autobiografia de alguém que poderia ser eu).


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Estou tomando conta de mim


Decidi viver direito, é isso; mas não vou ser moça de manual de boas maneiras nunca, nem vem...
Estou pondo a vida em dia, olhando de novo pra mim, me ajudando a ser alguém. Sabe quando você resolve escovar os dentes devagar, não negligenciar o fio dental? Estou cidadã de mim mesma, me merecendo mais.
Estou em vida, indo, em trânsito, me ocupando de mim. Não estou pensativa, nem reflexiva, nem nada, já fiz muito isso, estou na fase seguinte, entende? Agora estou na etapa fazer.

Sim, mas e daí? E daí nada, só estou dizendo o que está acontecendo.

Escrevo assim mesmo, não estamos no terceiro milênio, todos morrendo de pressa? Vou escrevendo como quem transborda de si. Gosto dessa sensação de não me caber.

E escrever, o que é? Às vezes acho meio esquisito ficar conversando com o computador, ele não me responde, não participa. Sento aqui em frente ao monitor e começo a digitar umas coisas que nem sei para o que servem... Escrever é conversar sozinha? Não é um pouco esquizofrênico? Bem, pelo menos até que alguém leia, me parece.


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Papo Rádio

Estava quieta, ouvindo música sem prestar muita atenção quando um ouvinte todo brother me liga. “Aí, falei com você ontem, né? Dá pra tocar Romeo and Juliet do Dire Straits?”. Eu: não foi comigo que você falou ontem; não dá pra tocar porque não está programada, e não tenho como programar música, liga amanhã às duas da tarde e fala com a programação.
Gente, rádio não é disque-música... Já pensou se eu saísse tocando o que me pedem? Como teria tudo à mão? Como fazer a rádio funcionar direito desse jeito? Se bem que tenho algumas idéias para rádio. Uma é atender alguns pedidos durante a programação normal, tocar umas três músicas no máximo que fossem pedidas ao locutor; outra idéia é o próprio locutor ter o seu momento e incluir umas duas músicas por dia de trabalho. Mas o legal seria dizer que estava atendendo a pedidos e dizer que ia tocar uma selecionada por ele, contar uma historinha rápida sobre o porquê, se houvesse um porquê, fazer uma coisa mais humana, mais normal, como quando você mostra uma música para um amigo em casa. Tempero tempestivo. Se não pintasse telefonema ou idéia, seguia-se a rotina.
Por que se faz rádio sempre seguindo velhas fórmulas? Somos tão formais no dial. Até numa rádio jovem vê-se que é tudo montado, produzido... São jovens com atitude pseudojovem. E quem foi que disse que jovem é feliz o tempo todo e só gosta de música acelerada? Veículo de massa esmaga toda singularidade humana, relega todas as idiossincrasias, que faz de cada um um. Ouvintes são pontos de audiência, mas eu me sinto falando com cada um deles, já que sou escutada como uma só.
E talvez essa seja a maneira mais simples de dizer o que sinto ou como sinto o que é fazer locução. Eu não me sinto falando para o coletivo (sem trocadilho, que não se trata de ônibus!), falo com uma pessoa, que não especifico homem ou mulher - é um espírito, uma inteligência. Eu me dirijo a quem me ouve verdadeiramente e tenho intimidade e afeição quando converso com o ouvinte. Ele não me responde na hora, mas sei que está do outro lado, do mesmo jeito que é quando falo no telefone com um amigo. Quando abro o microfone abro um canal muito especial, e isso não é para enaltecer quem nem conheço. Alguém está lá como eu estou aqui em frente ao microfone. Falar para os ouvintes é meio como conversar comigo, fico muito à vontade, como se quem me ouvisse me conhecesse. Sou íntima do ouvinte desde já. E intimidade é palavra que não rima com mentira, nem com vulgaridade, e sim com respeito, dedicação e entrega. Gostei de quase explicar como é estar no ar, é estar em boa companhia, mas não em frente a uma platéia, ali estamos só eu e o ouvinte imaginário, que nem traduzo em sexo, cor, idade, classe social. O ouvinte é antes de mais nada alguém que me faz companhia.

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Ser feliz é a maior mentira que a gente inventa para agüentar a vida.


De vez em quando invento umas frases assim. Nem explico.

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quarta-feira, maio 21, 2003


Coisa mais rami-rami esse backup aqui. É só um alô esquizofrênico pra mim mesma. Que ninguém leia essa miscelânea ...


Revista feminina, esmalte vermelho,vinho ou café - sejam as bebidas ou as cores - e já me sinto pior, que bom. Estava muito inteligente, começou a ficar difícil fazer as tarefas do cotidiano e achar natural, começou a ficar chato falar com desconhecidos e ter que conviver com a falta de modos das pessoas na rua - às vezes penso que só somos educados com os amigos, alguns vizinhos, colegas do trabalho ou quando nos damos conta de que estamos sendo observados ou simplesmente quando estamos mais atentos à necessidade da educação para nos sentirmos melhores; aquele gesto educado, em sua forma espontânea, que não se revela merecedor de um troféu de boas maneiras é cada vez mais remoto. Mas ia falando de outra coisa, e é sempre assim. Não falo de uma coisa de cada vez, não penso uma coisa de cada vez, não me preocupo com um problema de cada vez, estou sempre cometendo associações que me enlouquecem, freqüentemente fico sem saída e vejo que a falta de saída justifica minha inação, mas aí vou entrar em novas considerações que não me interessam agora.
Ia dizendo que a inteligência nem sempre é bem-vinda. Às vezes quando quero sossego rápido ponho meu cérebro em marcha reduzida. É tão bom não ter que pensar, e o salão de beleza e as revistas femininas podem me relaxar tanto quanto uma boa meditação. Claro que nunca fiz uma boa meditação e por isso penso assim, ou brinco que penso, porque já me estressei muito lendo sobre como ser mais bonita, jovem e chique nas revistas e tive arrepios existenciais depois de ler duas revistas dessas que fazem o colunismo social dos atores e famosos... Como me sinto alheia ao que se valoriza nessas publicações, se elas fossem me avaliar me dariam nota vermelha.


É engraçado um cara assim, de blusa preta com a cara do Marilyn Manson estampada, cabelão no ombro, jeito rebelde total, mas que não sabe pensar.
- Você se acha inteligente?
- Inteligente é quem tem as informações de que precisa e sabe o que fazer com elas.
- Você tem?
- Estou tentando saber de que informações eu preciso. Nem sei se as tenho, nem onde consegui-las, que dirá se saberei utilizá-las.


Tem gente que sabe falar de sexo de uma maneira clara e sem ser pornográfica. Nada contra a pornografia, mas percebo essa palavra rodeada de preconceito, como se sexo intenso, bem feito, caprichado fosse só para quem é meio perverso. E perversão pode ser só uma desorientação de quem não sabe que a qualidade do sexo não tem nada ver com o recato ou a falta dele. A depravação é de quem censura o ato, quem o faz com gosto, mesmo sentindo uma energia parecida com a pornográfica, pode saber que está lidando com coisa muito valiosa e espiritual - acessível somente às poucas pessoas que se libertam dos pudores burgueses.


Eu gosto das minhas fragilidades e não me importo se você vai me achar menor porque as conheceu. Eu me conheço mais que você a mim.



Muita coisa ficou provada naquele sábado à noite. Pedro chegou na casa dela quando a chuva começava a melhorar, naquele dia que esteve escuro desde cedo.
Na chegada ele já dissera que não iria ficar para ir ao teatro com Lia, Paula e Flávio, como estava quase combinado. “Quase” porque Paula nunca dava sua resposta final, era sempre “pode ser”, “te ligo pra confirmar”, e por aí vai.
Mas Lia já nem ligava, ou pelo menos não ligou naquela noite.Estava vendo Matrix na TV e, como já era a terceira vez que se deslumbrava com o filme, ficou conversando existencialidades com Pedro.
Naquela sala faziam filosofia, análises e propecções sobre suas vidas. Tinham incertezas, tristezas e questões parecidas. E tinham um ao outro para se ajudarem a enfrentar a vida que avança em direção à morte.
Enfrentar não era o melhor verbo. Eles não enfrentavam a vida, eles se aconchegavam na vida do jeito que dava. E ia dando bem.
Os dois não namoravam, nem um com outro nem com mais ninguém. Havia pretendentes de ambas as parte, mas ele não vinha tendo sucesso na fase da manutenção e ela tinha saído de um namoro de um ano e cinco meses, que tinha dado trabalho e ainda dava saudades (não pelo namoro, que nunca deu certo, mas da fidelidade e da sintonia sexual – era química primitiva, de pele, cheiro e ritmo, coisa que não se acha toda hora e que sustentou a relação cheia de incompatibilidades de outras ordens).
Mas naquela noite a conversa era outra. Era um papo solto, sem direção nem motivo, sem nada a dizer, e assim algumas coisas foram ditas ali.
A noite corria solta, eles já tinham rido de tudo na TV, visto programas de entrevistas, animais correndo, novela das oito, iam zapeando os canais e os assuntos das conversas.
Pedro era bom massagista, sabia shiatsu e já estavam nessa fase do encontro, que sempre acontecia. Lia sabia que depois da massagem ele iria embora, era sempre assim. Eles se viam, se abraçavam, se davam colo, comiam alguma coisa (às vezes na rua, mas naquela noite pediram uma massa verde com recheio de ricota e nozes sensacional), até que ele lhe fazia uma massagem e se despediam.
Umas duas vezes ele ficou para dormir. Usou uma cueca samba-canção que esperava o filho de 11 anos dela crescer, trocou-se na frente dela, deitaram-se na mesma cama, mais massagem, nenhuma atividade sexual (pelo menos nada ortodoxo a esse respeito) e sono.
Dormiram juntos, sem sobressaltos, ela de shortdoll de malha, como gostava de dormir; todos à vontade e sem vontades outras. Coisa que não se explica, só se entende.
Ele não era gay. Mas não vinha sendo muito sexual. Na prática, nada, nada. Sexualidade latente, adiada sabe-se lá por quê.
E ela não tinha nada com isso, nem queria ter. Pouco tempo atrás teve um homem, como já disse, e eram felizes nesse setor. Mesmo recém-separada do melhor sexo que já teve na vida, Lia ia bem. Estava cada dia mais confortável com quem tinha escolhido ser. Feliz no hoje, com a vida pela frente para viver, sem ansiedades e com a sabedoria adquirida em muitos laboratórios, alguns enganos, boas leituras e conversas, curiosidades, sustos, medos e tristezas. Ah, e algumas alegrias – não concordo em quantificá-las em algumas, porque alegria é coisa que nunca é pouca.
Lia via a vida com a poesia que ela queria que a vida tivesse. E ela encontrou a serenidade que tornou possível enxergá-la.
Os amigos próximos também tinham esse dom. Poesia e preocupações existenciais em graus variados possuíam todos eles. O grupo mais seleto era formado por Lia, Paula, Pedro e João (outro amigão). Lia e João tinham dois filhos cada; ela, um casal; ele, dois meninos. Paula tinha um filho. Pedro não era pai. Flávio (outro sem filhos) não era tão próximo, mas estava querendo sair com Lia para tornarem mais visuais as longas conversas sobre filosofia e a vida (se é que não cometi aqui uma redundância) que vinham tendo em telefonemas quase diários nas últimas semanas. Ele fazia doutorado (tese sobre Nietzsche – não era “pouca merda”, não).
Pedro não dormiu naquela noite na casa de Lia porque tinha que dar aula de ioga às nove e meia de domingo (hoje em dia há quem malhe nos fins-de-semana...) e com ela era ainda pior, teria que acordar às cinco da manhã para entrar no ar às seis – Lia é locutora de rádio FM e televisão.
O que ficou provado afinal de contas? Que a amizade de Pedro e Lia é mesmo sólida. Não que houvesse dúvidas, mas ficou certificado.
Depois da aula dele e da locução dela foram tomar café da manhã no Bistrô do Livro, um café-livraria em Ipanema, bairro em que os dois viveram a maior parte de suas vidas. Saíram de lá para bairros próximos, Gávea, ela; Copacabana, ele. E seus pais continuam em Ipanema até hoje. (Pedro tinha perdido o pai no início da vida adulta, lá pelos 20 e poucos, época em que não era ainda o amigo íntimo de Lia que é hoje, e que viva em a tia gente boa da Paula. Ele era bem mais novo do que ela, ela é muito jovial até hoje, de tia não tem nada – é uma amigona da sobrinha e se dá muito bem com Lia).


- Que forma de inteligência é essa que torna viver tão difícil? Isso é excesso de cérebro ou burrice grossa.


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(...) Gosto mais que as coisas aconteçam, sem muita luta
nem revolta (...)




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segunda-feira, abril 21, 2003


Você nunca se envergonha de si? Do que diz, do que faz, de quem é às vezes? Você acha que está sempre certo, que sempre fez a melhor escolha, que está sempre com a razão? Não estou falando de timidez, mas de desconfiômetro, de semancol . Claro que o ideal é não tomarmos decisões irrefletidas, mas sabemos que erramos, que escolhemos mal de vez em quando, mesmo quando a constatação vem tarde demais.
A parte boa dessa história é que podemos aprender a estar sempre prontos para reconhecer o erro; aceitar nossa falibilidade pode ser produtivo. Sem essa de querer estar certo da próxima vez, isso é pouco demais. O que podemos entender é que o erro tem seu lugar, ele faz parte de nossas ações aqui na Terra. Nem todo acerto é melhor que todo erro. Existem erros que revolucionam, que trazem uma nova solução. E isso não é querer ver a vida com olhos de Poliana, é apenas saber jogar com as cartas que estão disponíveis. E no baralho nem sempre dá pra saber o que se esconde...
Perder o medo de ser ridículo, de ser fraco, de ser desajeitado. Buscar ser não o melhor, mas ser melhor, latu sensu. Respeitar-se, saber os limites que devem ser superados e os que devem ser acatados como parte da pessoa que você quer ser.
Dizer que você é o resultado do que faz, é pouco, dizer que o que você faz espelha quem você é fica meio bobo. Ninguém sabe quem é no próximo minuto, e isso chega a ser surreal. Se nos fossem dadas todas as garantias de que tudo o que fazemos vai sempre sair como planejamos, que o mundo vai sempre andar como imaginamos, a vida seria uma chatice, seria apenas o cumprimento de uma obrigação, um serviço. E até em matéria de serviço, sabemos que nem tudo sai como previsto; obstáculos se interpõem, interferências se manifestam, novas conjecturas se apresentam... Temos que agir com um olho no agora e outro no depois, sabendo que quando o depois vira agora pode ter outra aparência e exigir novas atitudes.
E essa conversa toda parece não ter chegado a lugar nenhum. Talvez nem faça sentido. Mas isso pouco importa. Disse o que queria dizer, mesmo que mal dito pela ineficiência de quem fala e das palavras disponíveis para essa explicação. O resultado possível foi quase alcançado. Será alcançado se for compreendido por quem lê. Mesmo sendo quase incompreensível para mim mesmo.



Será que li Schopenhauer demais? Esse meu retiro da vida me parece exagerado. Até meu dileto filósofo disse em seu Aforismos para a Sabedoria de Vida que “a ocupação espiritual incessante nos torna mais ou menos inaptos para as agitações e tumultos da vida real. Dessa maneira, é aconselhável suspender inteiramente tal ocupação por algum tempo, quando surgirem circunstâncias que exijam de algum modo uma atividade prática e enérgica.” E viver está me parecendo “uma atividade prática e enérgica”...
Isso me lembrou da utilidade do investimento espiritual para a nossa vida. Porque quando temos um espírito evoluído sabemos lidar melhor com o sofrimento, com todo o fardo existencial que se apresenta. Porque a vida não é exatamente a disneylândia da existência.
Se tivesse dinheiro bancaria uma grande campanha publicitária da filosofia, sem vender nada, além da idéia de se aprimorar o espírito. E isso não é novidade. Epicuro serviu de fonte de ensinamento para um excêntrico milionário contemporâneo dele, que financiou grandes avisos públicos em vários muros da zona de mercado de Atenas, alertando para que o consumo não tornaria a vida de ninguém mais feliz, ou coisa do gênero, inaugurando a mídia dos outdoors – e isso é história que poucos publicitários devem conhecer. Autêntica campanha anticonsumo, acontecimento insólito para os parâmetros da publicidade que temos hoje. Essa história está no livro Consolações da Filosofia, de Alain de Botton, e se der vou trazer até aqui o nome do milionário bem intencionado (emprestei o livro a um amigo).
Acredito na evolução espiritual como verdadeiro acesso à felicidade. O próprio conceito de felicidade já foi mais do que distorcido pelos nossos colegas de espécie. Pascal Bruckner, filósofo sociólogo, tem ótimo livro a esse respeito, Euforia Perpétua, que, entre outras afirmações, traz o alerta de que, hoje, felicidade virou mercadoria na mão do capitalismo. De lá posso tirar uns trechos para ilustrar o que tento dizer (esse livro também emprestei - a uma amiga).
Li em algum lugar, e quem lê muito tem desses lapsos, que Sócrates ao ver várias mercadorias expostas à venda dizia: “quantas coisas de que eu não necessito”, e essa frase me parece um bom exercício a ser praticado diante das vitrines.
O engrandecimento espiritual não deve ser prerrogativa apenas das religiões, e o que se vê é que toda tentativa de monopolizar essa questão acaba em conflitos, quando não em guerras. Quando uma religião se diz a única e a verdadeira, contribui para uma problemática que acaba colocando em questão o próprio valor daquela religião que em nome do bem e da verdade elimina pessoas que não pensavam como ela determina. Claro que nem toda religião é boa, principalmente quando incluímos nessa análise as religiões criadas pelo homem mal intencionado, o que quer apenas tirar dinheiro de seus fiéis etc etc.
A filosofia é um caminho adequado ao crescimento espiritual, e como tal também sofreu perseguições. Sócrates perguntou demais e foi obrigado a tomar cicuta por não querer retirar suas idéias. Sêneca também foi perseguido, condenado à morte e depois de várias tentativas frustradas de cortarem-lhe os pulsos e o afogarem, acabou pedindo que lhe dessem a bebida de Sócrates.
O esclarecimento não interessa aos tiranos. Pensar não é conveniente aos ditadores. E isso não é novidade. Mas se você não pode escolher em que mundo viver, pode escolher como pensar. E nos dias de hoje isso é uma alternativa à qual se socorrer.


Pensei em tentar escrever sobre alguma coisa. Acontece que a alguma coisa que me ocupa o pensamento agora não está em palavras. Sinto um vazio tão bom, uma presença do nada tão oportuna. Um silêncio tão acolhedor, tão completo. Acho que temos informações demais, palavras demais, assuntos demais soltos no ar. O barulho impera. Vamos aproveitar que a inspiração não veio, para fazermos uma respiração dessa paz de espírito que nem sempre dá as caras. Não é plenitude o que sinto, não é tampouco um vazio. É um o que é com toda a sua sabedoria de ser alguma coisa, sendo nada.


Um homem

Acordou cedo e apressado sem saber quem era. Já de pé no banheiro, o espelho lhe contou que ele era Jorge, e um dia cheio de afazeres se revelou em sua cabeça. Responsabilidades do cotidiano o aguardavam. Mais um dia, menos um dia de vida.
O cheiro do café o alertava que já era hora. O autômato tinha que estar preparado para a guerra. Depois da bebida quente e de duas torradas secas, uma mastigada na sala, a segunda já no elevador, Jorge se viu no espelho do cubículo de aço, agora de banho tomado e com a roupa de advogado, e se sentiu mais enquadrado no primeiro dia útil da semana.
O que o espelho poderia dizer para ele na viagem do quarto andar até o asfalto? Jorge parecia esperar dele uma resposta para aquela vida tão sem graça e se olhava cúmplice de si mesmo, entendendo o silêncio do aço.
No final do dia, o rosto no espelho do elevador estava abatido, seu reflexo só o fazia pensar em descansar, descansar. Quando foi que ele vendeu sua alma ao trabalho? Sua vida em troca de contas a pagar, cartões de crédito, cheque especial e toda a gincana de manter esses valores dentro do parco orçamento de advogado medianamente bem sucedido?
Na parada no quarto andar, fôlego para atravessar a porta de casa. Beijos sem gosto na mulher que um dia amou e que nos últimos dois ou três anos não fazia mais que ocupar o seu lado na cama, algumas prateleiras no armário e encher de solidão a sua vida.
Mas essas não são palavras de homem e aqui quem narra a história é essa mulher, que um dia o amou e que ainda hoje tenta entender o que é esse resto de sentimento que não consegue classificar, e que, por isso, é vivido como resto, simplesmente.
O casamento parecia estar no fim, isso quando é desses casamentos que chegam ao fim que falamos. Também poderia ser apenas o meio de uma relação que deixava o amor para trás em troca de companheirismo. Eles não se davam mal, se entendiam, se ajudavam, conversavam. Só não tinham mais desejo um pelo outro. E isso não era a pior coisa que poderia acontecer. Eles achavam a vida dura demais para trocar o ombro um do outro por um casamento desfeito. O desejo um dia acaba. Depois de satisfeito, principalmente.



Esse era o Jorge que Marisa via entrando e saindo de sua casa, de sua vida, de seus pensamentos. Então depois de tanto tempo juntos casamento era só isso, um casal morando no mesmo endereço?
Mas essas questões já tinham sido postas de lado por ela, pela inexistência de respostas que a convencessem. Marisa já não ficava procurando entender o que acontecia. Marisa não procurava; encontrava. E essa frase já fora dita por um sábio, que agora, para variar, não me lembro quem foi...


A vida é uma contagem regressiva inacabada para a morte.


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Antes que eu morra, a vida. Melhor: Antes que eu morra, à vida!


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Hora de sair. Olhou no espelho, treinou o sorriso e foi tentar ser feliz mais um dia. Apesar da tristeza da chuva lá fora, o dia teria que ser vivido. No passado, leu uma vez uma frase que nunca mais esqueceu: “o que merece ser feito merece ser bem feito”.
Já adulta, viu que a questão não era fazer bem feito, era saber o que merece ser feito.
E viver parece ser algo que merece ser bem feito. Mas a vigilância corrompe a espontaneidade. O olhar deve estar atento, porém integrado.
Esse constante estar-fora, estar-dentro; o observar e o agir de quem toma seu lugar no mundo. E, no final, o mundo é uma idéia que temos do em torno, dessas pessoas todas sobre a Terra e de seus feitos cotidianos ou históricos.
Nada parece ser muito importante. Ou seria o contrário?
E o lugar do erro na nossa vida? Não se deve temê-lo. O erro é criativo, rompe com o que era previsto. Traz a piada ou imprime qualidade humana no que fora idealizado.

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Chegou na padaria antes das seis e reparou no casal que terminava àquela hora a noite anterior, comprando cerveja. Os dois de olhos vermelhos e cansados.
Quando Marta foi pegar o pão, a mulher acompanhada disse que tinham mudado de idéia. Parece que iam trocar a cerveja pelo café de toda manhã. Foi nessa hora que o relógio acertou a vida daqueles dois.

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Pode fazer do jeito que for, contanto que fique bom. (tipo da frase que não explica o que deve ser feito).

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Que mundo sortido, ham.

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Hoje para treinar na academia tenho que fazer a maior ginástica. Reservar uma hora por dia entre os afazeres que arrumei para minha vida. Ir sem muito alarde, para nem meus filhos nem o namorado-da-vez se sentirem lesados pela minha ausência.
E a sociedade continua me cobrando estar linda, magra, sem flacidez, sem celulite (não sei como pagar essa conta. Vale um pré-datado sem fundo?).
Não vou virar essa deusa da mídia nunca. Não dá mais tempo, ou nem toda uma vida seria tempo suficiente… Mas tenho que ser o meu melhor corpo de hoje.
E o espírito também. E nele invisto lendo e tentando entender o que se passa comigo no mundo, desde que reparei que existo, aos 12 anos de idade, mais ou menos.

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Meu pai é um dos sujeitos que mais gasta dinheiro para ser pobre.
Tem gente que não tem quase nada e vive bem. Uma casa própria razoável, eletrodomésticos funcionando, computador, som e TV a cabo, inclusive, além de telefones convencional e celular e um carro de dois anos atrás em boa situação. Paga as contas, quita as dívidas que faz. Vive justinho.
Eu sonho com isso. Ser média, comum e em dia. (Nunca pensei que fosse querer tão pouco da vida.).
Mas depois de dois filhos com o homem errado, minha vida desandou.
Hoje vivo num apartamento próprio (próprio do meu pai!), com dois cômodos precisando de cortinas novas, a lâmpada fluorescente da cozinha queimada (deve ser o tal do start. “É quase sempre o start, madame”.), a geladeira quebrada, o som da sala que não roda os CDs, o computador com o monitor sem foco, o áudio calado e o modem sem responder… Uma vida desarrumada. Ah, e contas em atraso, armários sem comida, etc, etc.
E ainda tenho que ver como vou pagar o material escolar das crianças.
Ë o céu desabando sobre minha cabeça! E eu nessa subversão cotidiana de querer ser feliz e viver correto.

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Não tenho disposição física para exercícios, nem saúde mental para me ver horrorosa no espelho. Pagar para ser bonita (clínica de estética, cirurgia plástica etc) também é difícil, porque o dinheiro não sobra.
Tem os hidratantes, cremes manipulados, shampoos profissionais, condicionadores, leave-in, tratamentos capilares; manter a saúde em dia (comida correta e plano de saúde), a pele, os dentes – tudo muito caro.
Ficar bem na foto é difícil, na vida, é impossível. É jogo de caxangá, tira daqui, bota ali, falta acolá.
É um provisório eterno. Sempre algo por fazer, algo que fica para trás, que fica para depois…
Virei uma pessoa cara sem me dar conta. Com a idade vieram mais despesas para cultivar minha vaidade. Se estou horrorosa, deprimo.
E o tempo não é aliado. O tempo nos leva para a morte. Não é amigo mesmo. Só que no trajeto aprendo mais da vida e de mim – para usar nos meus momentos de lucidez.
Se fosse lúcida…


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(poesia)


Laboratório da vida
Uma vida que tinha que ser real
Eu a alimentava
com uma espontaneidade
quase suicida

Contagem regressiva inacabada para a morte

Campanha de vida útil
Para uma vida inútil até então

Hoje, de cara para o futuro,
Caminho para o fim, enfim

Sou kamikase da minha própria vida.

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Vinha fazendo laboratório de literatura na minha vida, que deveria ser real. Virei kamikase da vida. Reagindo com espontaneidade suicida, em contagem regressiva. Uma coisa pá-pum. Ih, disse…


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Somos aglomerados de células que ocasionalmente se traduzem em pessoas. Células reunidas com maior ou menor sucesso, mas que resultaram na vida humana.
Essas pessoas nas calçadas, nas ruas, em toda parte. Bem que Schopenhauer disse que viemos todos perturbar a paz do nada preexistente a tudo isso aqui.




















Tenho pensado. Grandes revoluções começaram assim.
A minha revolução pessoal teve início em algum momento em que eu parei de pensar e comecei a agir.
Agir sem pensar. Agir automaticamente, autorizada pelo banco de dados de toda uma vida de observação.
Agora alterno. Penso e ajo. E já consigo combinar as duas operações.
Sou gente em formação. Para sempre.


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(Para Eulina)
Amiga,
Estou numa fase minimalista, só solto frases. Não crio histórias, contos... Só frases. Como citações – só que minhas.
Eu, hein... Às vezes, meias frases.
Surtei?


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Vivendo vida de manual de boas maneiras...


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Ela não acreditava em astrologia, mas se servisse para justificar alguma coisa, usava-a como recurso. Ela também não desacreditava.
Seu jeito era culpa do seu signo. Era libriana e estava sempre oscilando como os pratos da balança.
Muita disposição, pouca disposição. Alegria, tristeza; indecisão nas pequenas e grandes escolhas; vai, não vai; foi bom, não foi. Ela era muitas.
Mas isso poderia ser engraçado – todo defeito tem sua utilidade...
Como no dia em que entre a introspecção e a espontaneidade recorrentes, Mônica marcou letra b quando aceitou o convite de Alexandre para ir ao bairro boêmio da cidade, beber todas e ver o que aconteceria.
Não fazer planos era seu único plano para aquela noite.
Foi, viu e não gostou.
O cara chegou com jeito ansioso, muito falante. Até aí, tudo bem, ela falava pelos cotovelos quando o prato da comunicação subia. Falava muito e bem. O cara falava muito e mal.
“Ih, a noite vai ser longa”, ela pensou lançando mão de um olhar tranqüilo para capturá-lo para uma atmosfera cinco degraus abaixo. Mas o sujeito não entendeu a mensagem, continuou no seu monólogo cheio de disposição.



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Chorei de tristeza pura. Chorei de tristeza sem endereço. Tristeza de dentro de mim para o mundo. Vontade de chorar, motivo: todos. Estou triste, carente, sozinha, com saudades dos meus filhos, num ambiente inóspito como o mundo. Preciso de outros motivos?
Sei que existe a flor, o verde, o mar, a montanha e toda a beleza do Universo. Mas me sinto triste e só. Só.


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Ser feliz é entrar numa outra zona de sentidos. Os cheiros são mais intensos; as cores mais vivas; o vento sopra mais na nossa direção. O mundo fala com a gente. Uma criança passa e sorri, todos parecem te saber feliz. Os olhares são outros...



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Tinha tudo para dar errado e vamos acertando no erro há um ano. Tratamento de choque, quando o amor não concorda com as idéias, mas quer o outro mesmo assim. Fora o que ele pensa de encontro com o que eu penso, nos entendemos bem demais.
Como amo esse homem.



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As circunstâncias podem nos tornar irreconhecíveis.

(acho que alguém já disse isso)


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Cansado de ser apenas “another brick in the wall” e ter que compactuar com a mediocridade humana, sempre dando as mesmas respostas às velhas perguntas que a vida te faz? O senso comum está te dando nos nervos?
Seus problemas acabaram!
Toque a vida do seu jeito. Diga não às convenções dos burocratas existenciais e solte sua franga hoje mesmo.
Dê um basta.
Chute o balde.
Ligue o “foda-se” e todos os chavões do tipo.
Troque seus problemas por novos.
Ponha um pouco de loucura na sua vida. Surpreenda, quando te perguntarem “que horas são?”, responda “ bife à milanesa” . Enlouqueça todos ao ser redor.
Porque viver pode ser mais divertido!
Uma campanha das...




(Soltos:) Alguma hora a mulher tem que ligar o piranhômetro. Tudo bem ser casta no trato social, mas na cama, alguma hora a volúpia tem que bater – ou não vai ser bom mesmo.

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O que estamos fazendo aqui? Estamos todos tentando ser felizes, de um jeito ou de outro. Dando beijo na boca ou explodindo bombas. Felicidade é subjetividade pura. E são nessas tentativas individuais que os problemas vão acontecendo. Tentativas atrapalhando tentativas; tentativas completando tentativas; tentativas iniciando tentativas. E resultados. Inúmeros resultados. Tudo o que se faz é resultado. Viver é a soma de muitos resultados de coisas tentadas.

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Alguns destes que escrevem - e não sei se poderia denominá-los escritores -, usam palavras a mais apenas para ocupar o nada. Isso me lembra Schopenhauer, que acha que a humanidade é um equívoco que surgiu para atrapalhar a perfeição do nada preexistente. Algumas palavras a mais em um texto fazem isso, ocupam o lugar do vazio, da sábia e necessária respiração.

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Há horas em que a gente tem que fazer o que é certo, e não o que se quer. Horas em que temos que fazer o que é melhor, não o que gostaríamos.

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Não se deve ter medo do erro. O erro é criativo. Rompe com o que era previsto. Traz a piada ou imprime qualidade humana no que fora idealizado.


Prazeres

Tem gente que pensa que só porque eu gosto de ler Schopenhauer não gosto de sexo. Errado, trepar é bom.
Tem gente que pensa que só porque eu gosto de sexo gosto de drogas e álcool. De álcool até gosto um pouco – mas é a bebida que não gosta de mim, se passo de duas doses, passo mal.
Drogas, tô fora, saí pra... Brincadeira. O que posso dizer é que maconha me lembra incenso, não é ruim, mas também me cai mal. E as drogas ilícitas financiam o crime organizado – o que é motivo bastante para optar por outros prazeres.
Além da leitura, do sexo e do álcool? Música, filmes, comidas leves, doces delicados, sorrisos francos, brisa no rosto, chuva na madrugada, céu à noite, lua cheia, um bom banho, um bom perfume, massagem, rir, descansar... São muitos os prazeres fáceis da vida, e esses são os melhores. Eu, por exemplo, adoro a sensação da casa arrumada, tudo no lugar, papéis e coisas desnecessárias no lixo, cara de limpeza, roupa recém-lavada, recém-passada. Um vaso com flores – esse é um prazer afastado, por causa da dengue...



Sobressaltada com a paz de espírito ideal reinante em meu ser, fico à espera do depois. Que doença é essa que, quando não é o mundo que me aflige sou eu mesma que o faço?
Eu me olho e desconfio do pior, do mal à espera. Sinto a sorte boa e temo perdê-la. Aceito que está tudo bem e espero a conta do destino chegar.
E ela chega. A morte é o preço a ser pago pela vida.


Por que tanta indecisão? Hoje pode até ser que esse relacionamento sem futuro faça sentido. Talvez esse relacionamento esteja preenchendo razoavelmente o espaço de hoje, mas como abrir mão de outro melhor? Como optar pelo que se sabe moribundo em lugar de ficar aberta ao desconhecido? Ficar sozinha não é assim tão ruim. É ficar na própria companhia. Se cuidar, poder olhar mais vitrines, decidir que canal vai ver na televisão, poder ficar em casa num dia de sol sem patrulha, dormir até de tarde, acordar cedo sem motivo, talvez para pegar o sol da manhã... Mudar a rotina. Dar uma sacudida na vida. Inventar novas paixões. Ou ficar mais quieta, escolhendo mais. Observando a vida. Vivendo sem pressa.
Mas na hora de dizer tchau você titubeia. Treme de pensar que poderia fazer daquela a última vez. Diz-se confusa e se confunde ainda mais com a revelação. Ele diz que não vai insistir, que te quer, mas tem amor próprio... Mas isso é quase pedir... E você se amedronta de ficar sozinha de novo no mundo. Se lembra dos bons momentos, das risadas que deram juntos, da intimidade que construíram, de todo o envolvimento que os tornou tão próximos - e tão diferentes nas suas diferenças...
“A gente não vai conseguir se separar, né? Por quê?” E nem tenta dizer que preferiria não conseguir... Aproveitar a festa a dois mais um pouquinho. Usufruir dos minutos finais. Brincar com o tempo. Deixar passar da hora... É tudo muito arriscado, são egos em ação, sentimentos, necessidades, vaidades. Você não se sente muito certa adiando o fim mais uma vez, mas também não gosta da idéia de ter que optar pelo fim.


Poesias da idade

Coisa mais chata ver a decadência
do corpo no espelho
E isso não é poesia

A beleza da juventude
me põe a nocaute
em qualquer esquina

Minha beleza me custa
cada vez mais caro
Dói no bolso e na alma

Não me acostumo a estar acabando
Vejo meu corpo consumido pelo tempo
Sou eu me descorporificando
Virando morta
É o começo do fim – já sinto

Meu corpo inteiro reclama de existir
A pele resseca, o tempo traça linhas,
o cabelo perde a cor,
os olhos nem sempre brilham,
os dentes amarelam meu sorriso



Pra que drogas?
Quero a vida sem anestesia!



Que vida tola. É só isso? Um dia atrás do outro? Às vezes alguma emoção. Às vezes a falta dela.
O tempo vai acontecendo, sem que se consiga parar esse relógio. É esse relógio que um dia pára a gente.
Vai vida, vai indo que eu vou junto, um dia te levo, no outro você me carrega.
Cansaço de existir. Cansaço. Preguiça. Ou até medo. Mas quando é bom, ah, como vale a pena ser gente viva. Ser gente. Ser.
Meu conselho: viva. Não há mesmo outra coisa a se fazer.
E o futuro?
Ah, deixa pra amanhã, que o tempo se encarrega de trazê-lo. Faça seu hoje bem feito. E só; que isso já é coisa demais.



O sorriso dela estava amarelo. Não era um problema estético, talvez ético ou moral… Ela não se entendia com a própria vida. Vivia aos solavancos. Um dia de bom humor, outro de mau humor. Algumas horas de determinação, muitas horas de desânimo. Viver era meio chato mesmo, ela sabia. É desse jeito que as coisas acontecem, com qualquer pessoa, em qualquer lugar. E por que não com ela?
Ela não se sentia mais credora de toda a felicidade do Universo. O tempo ia passando para todo mundo e levava e trazia bons e maus momentos. Só isso.
Nem precisava mais perder tempo pensando em como a vida podia ser sem graça, nem tinha que se lembrar a toda hora que dela fazem parte também os dias bons, as boas recordações que levamos para o futuro.
Tudo caminha em direção ao fim. Fim sem data, sem cara, até sem certeza de não existir um depois. Se tudo impermanece, porque só o fim seria imutável?
Era só o sorriso amarelo de quem sabe que nada sabe e que tudo é do jeito que é, até que mude.


Mais Marita.

Outro dia foi comprar um biquíni e nem se sentiu ridícula. A disciplina de Marita nas máquinas da academia tinha deixado sua marca naquele corpo. Corpo de 32 anos, um filho de 11 e um casamento desfeito depois de 8 anos sendo a metade de um casal.
Marita era livre e feliz. Não precisava de mais nada. E o amor romântico que não era posto em ação se diluía no amor ao filho, a si mesma e à vida, que ela saboreava de boca cheia e coração inflado.
Quase ansiosa.
Quase compulsiva.
Quase normal.
Ela era.
Mas comum, nunca. Comum é chato demais. Monotonia entristece a vida.
E para Marita nada era monotonia. Até ir à padaria lhe reservava surpresas. Nem que fosse pelas pessoas que passavam no trajeto, pelas vozes do caminho, pelos fragmentos de conversas que recolhia. Um dia Marita se pegou compilando trechos de papos furados e inventando uma história. Foi sem querer que casos distintos pareciam se completar em uma conversa de segunda mão. Ela quase foi capaz de interceder e dar seqüência à conversa dos outros.
Mas Marita tinha bom senso, ouvia como se não ouvisse e seguia seu caminho sempre calada.


Falando em amor...

Eu gosto do gosto do amor improvável
Aquele que quase acontece, mas se adia
Aquele que te espreita, mas
não ocupa o posto

Gosto de acreditar que o amor
Impossível pode acontecer
se os dois quiserem.
Por hora, continuo acreditando.


**************************************************************


O amor platônico é o exercício afetivo dos ineptos para as dores e delícias da vida real.
Há que se tomar fôlego e dar o primeiro passo para investigar se o que é platônico pode virar verdade.
Melhor que ser espectador de uma vida de possibilidades que não saem da fantasia.



Continuamos tentando

Schopenhauer já dizia que as pessoas terão uma vida mais tranqüila no dia em que aceitarem a idéia de que não viemos ao mundo para ser feliz. Viver é outra coisa.
São os dias acontecendo, você tentando manter o controle, vivendo seus sofrimentos do jeito mais tranqüilo possível (aceitando-os como parte da vida).
Mas o que me espanta é que outros decidam que devemos sofrer. O dia, a hora, a maneira. A violência urbana desses últimos dias tem me assustado.
Já aceito a dor existencial estoicamente, mas a dor imposta pela covardia da violência de um homem contra o outro me apavora, me deixa paralisada.
Mas a gente segue em frente, sabe-se lá por quê. Ou como sabia Schopenhauer, seguimos movidos pela ânsia de viver, pelo impulso que ele chamou de wille zum leben, que nos faz ir em frente, ir vivendo a vida do jeito que ela se apresenta, tentando ser felizes.
É o céu desabando sobre nossa cabeça, e a gente nessa subversão cotidiana de querer ser feliz e viver correto. Continuamos tentando.


É verdade que eu podia ter nascido antes da descoberta da penicilina e ter morrido aos 12, 13 anos, na primeira gripe mais forte que me trouxesse uma pneumonia. Mas precisava ser contemporânea dos bandidos desta cidade violentada? Violentada, sim, não é só violenta, é vitimada.


E eu que achava que vivia um mero drama existencial. Drama de questionamento de vida, de perguntas em excesso. Quando comecei a entender as respostas que a vida me dava, a realidade me pegou de surpresa.
Que vida é essa que os dias de hoje nos obrigam a viver? A globalização do risco de vida, a violência caçando todo mundo.
E Deus? Dorme? ("Deus está morto!", nos informou Nietzsche).
Já vejo a hora em que os filósofos terão que pegar em armas...


Queria poder olhar o céu de cabeça limpa, sem sentir o vento do medo na cara transtornada pelo ataque que pode acontecer a qualquer momento. Aproveitar uma brisa suave e boa. Queria não ter que checar em volta as ameaças que podem estar me aguardando.



Dor de garganta. Gripe. A minha febre é existencial. Quando tudo vai bem e sobra tempo para pensar na vida parece que é ainda pior.
E amanhã? E depois? E mais tarde? O que vem?
Fora o susto que levo quando me dou conta do hoje de verdades que fui incapaz de prever.
Verdades que construo e que me constroem. Que doem na sua força de acontecer, em sua determinação urgente, sua impiedade, sua realidade avassaladora.
Como o vento que sopra e o tempo que vai. Como a respiração que acabou de acontecer, a que toma o lugar e a que a essa se segue.
Assim.
Sendo e impermanecendo.
Fluxo que só a morte irá parar. Ao que parece, diante do que conseguimos enxergar.
Mas lá, de onde não vêm notícias, que não venham preocupações. Que tudo aguarde, junto com o que ainda não existe (não aconteceu).


Que vida tola. É só isso? Um dia atrás do outro? Às vezes alguma emoção. Às vezes a falta dela.
O tempo vai acontecendo, sem que se consiga parar esse relógio. É esse relógio que um dia pára a gente.
Vai vida, vai indo que eu vou junto, um dia te levo, no outro você me carrega.
Cansaço de existir. Cansaço. Preguiça. Ou até medo. Mas quando é bom, ah, como vale a pena ser gente viva. Ser gente. Ser.
Meu conselho: viva. Não há mesmo outra coisa a se fazer.
E o futuro?
Ah, deixa pra amanhã, que o tempo se encarrega de trazê-lo. Faça seu hoje bem feito. E só; que isso já é coisa demais.


O meu mal foi ler Proust e achar que poderia ser poeta. Ou pelo menos surgir com alguma prosa que trouxesse alegria. Aquele consolo de que você não existe sozinho. E que as palavras são boas amigas. Acreditei nessa minha mentira inventada. E criei uma verdade nova.
Talvez eu não seja uma escritora. Talvez eu seja só uma neurótica que a psicanálise ainda não consertou para a vida. E que quando consertar, talvez acabe até com isso que eu penso ser, com modéstia, quase um talento. Porque é quando eu mais erro na vida que acerto nas frases.


Eu, que mal dou conta de mim, querendo escrever. E nessa insônia que me faz ver o dia clarear, aproveito a lista do supermercado, que já foi texto de trabalho e papel para minha filha desenhar, para fazer literatura.
Quanta bobagem. Será que penso que sou Clarice Lispector? Não. Sou mesmo Renata Xavier. E isso parece ser definitivo. Mergulho na minha pequenez, na minha singularidade, para lá buscar o que pode servir para me distrair da morte, que um dia chega.
E o papel acabou antes das idéias. Continuo escrevendo, como quem pensa ter algo em comum com Proust, Sêneca, Henry Müller, Jean Genet, Fernando Pessoa…
Peguei papel novo. Folha com linhas. Agora ficou mais difícil. Se ligar o computador, aí é que não sai mais nada.
Ia pensando, como se fosse inspiração, mas acho que era só transbordamento. O que é isso tudo?
É, acho que ser irrequieta ajuda nesse processo.
O texto flui mais difícil nesta parte. Ia melhor quando estava só na minha cabeça.
Eu o retomo depois, quando ele me retomar.


Ia pensando. Escrever é conversar sozinha. Não. É achar que tem alguém ouvindo e gostando da conversa. Se essa voz fala em mim, eu te coloco como testemunha desse delírio.
Boa parte do que valia a pena eu perdi. Não tive velocidade para anotar. Outra hora vem mais. Mas o que passou pela minha cabeça foi para o éter mesmo. Será que tenho que ser atleta dos meus pensamentos?
Por que não sou simples? Pra que tanta elucubração? É só a vida. E me lembrei do quadro de Chagall - A vida - , que só vi por acaso na televisão. Simples. Bonito mesmo. A mãe com a criança na rua cercada por pessoas comuns passando, o menino da bicicleta, a loja, a calçada. Ah, a vida é isso mesmo, Chagall. Lindo.
E a simpatia? O nome de um bloco carnavalesco aqui do Rio já explicou: “Simpatia é quase amor”. É o que sentimos num sorriso que se destaca, que revela a alma, que mostra Deus.
Não é só beleza.
Simpatia, gentileza, bondade, amizade. Isso tudo é mais.


Agora era tarde. O livro que um dia queria escrever já começou a ser escrito. Numa observação, num olhar que recebo, numa garrafa de club soda na estante errada do supermercado me lembrando de outra coisa (se não tiver preguiça, explico depois)*.
Já estou anotando a vida há tempos. Observo demais. Mas exercito também. Faz tempo que entendi que não basta estar viva, tenho que participar. Hum… Melhores frases virão, prometo.



Que importa a chuva lá fora, se dentro de mim faz sol? Que me importa o sol, se chove dentro de mim?


Às vezes esqueço que sou menina e olho o mundo com retinas masculinas. Leio pensamentos de quem me olha como se perguntasse quem eu sou. Também não sei. Mas sei que posso ser menino às vezes, nas minhas idéias, pensando sem os limites impostos pelo sexo que já nos enganou que era o mais forte por tempo demais. Forte somos nós, mulheres, que conseguimos chegar até aqui debaixo de tanta repressão.
Seres humanos são almas. E almas não têm sexo. Pelo menos não para justificar o que fazem contra seus iguais e seus desiguais.


Às vezes sou homem
Homem sensível
Inteligente
E inspirado

Homem gentil,
Atento,
Enamorado

Homem que não se percebe um falo
E entende que
Àquelas que faltam pênis pode
Sobrar talento para a vida.

Um homem meio gauche,
Muito amigo,
Um pouco indeciso,
Nada convencido

Um homem que é mulher no coração

Mas meu corpo gosta do meu oposto,
Mesmo que suas idéias tentem piorá-lo.
Acontece de homem ser coisa muito boa.

* Aquela garrafa de club soda na seção errada do supermercado falava comigo. Ela me fez lembrar da primeira vez que experimentei a bebida na casa do homem que costumava amar e não senti prazer muito maior do que beber água extremamente gasosa. Mas me fiz parecer deliciada com a experiência. O sexo era bom, intenso, prolongado, suado, molhado, tenro, quase excessivo, melhor que muitos, o melhor até então, porque quando se trata de sexo, depois de se conhecer a proficiência, não se deve brincar com amadores.
Mas o club soda não tinha nada com isso, afinal. E a vida seguia, como acontece até que a morte a interrompa. E hoje vejo que aquela lembrança que me atropelou no supermercado foi só a vida falando comigo nas suas entrelinhas, um momento instantaneamente mágico que consegui captar.
Às vezes melhor que a experiência em si é a lembrança que fica dela, e é na qualidade dessa lembrança que o que foi vivido parece se justificar.


Às vezes me sinto tão bem que me sinto mal. Ponho a vida tão em dia que fico sem ter o que fazer. Penso e leio tanto que entendo tudo.
E aí vem a pergunta: será que é assim que se prepara para a morte? (E fico com medo de estar pronta).
Sento na sala como se fosse visita, relaxo e olho pela janela as janelas dos prédios ao lado. Algumas luzes acesas, outras apagadas.
O que fazem esses seres? Só sei que eles não são eu. E não sendo eu um deles, posso estar aqui sentada, pensando essa frase absurda.




A vida é uma contagem regressiva inacabada para a morte.


Antes que eu morra, a vida. Melhor: antes que eu morra, à vida!


Chegou na padaria antes das seis da manhã e reparou no casal que terminava àquela hora a noite anterior, comprando cerveja. Os dois de olhos vermelhos e cansados.
Quando Marita foi pegar o pão, a mulher acompanhada disse que tinham mudado de idéia. Parece que iam trocar a cerveja pelo café de toda manhã. Foi nessa hora que o relógio acertou a vida desses dois.


(poesia)

Laboratório da vida
Uma vida que tinha que ser real
Eu a alimentava
com uma espontaneidade
quase suicida

Contagem regressiva inacabada para a morte

Campanha de vida útil
Para uma vida inútil até então

Hoje, de cara para o futuro,
Caminho para o fim, enfim

Sou kamikase da minha própria vida.


Somos aglomerados de células que ocasionalmente se traduzem em pessoas. Células reunidas com maior ou menor sucesso, mas que resultaram na vida humana.
Essas pessoas nas calçadas, nas ruas, em toda parte. Bem que Schopenhauer disse que viemos todos perturbar a paz do nada preexistente a tudo isso aqui.


Declaração de paz aos homens

A mulher estava verborrágica. Hemorrágica também, mas isso é detalhe. Sentou à frente do computador e começou a dedilhar aquelas letras feito louca. As mãos não conseguiam acompanhar a velocidade do seu pensamento. As palavras iriam escapar a qualquer momento. E ela em alta velocidade, indo atrás delas ainda sem saber como a frase terminaria. E se fariam sentido pra alguma coisa.
Às vezes era assim que ela escrevia, possuída por súbita inspiração. O telefone tinha acabado de tocar e era um amigo com o qual ela já estava combinando de fazer uma tatuagem há algum tempo. Os dois já eram maduros, mais de 30, ela; mais de 40, ele. Mas - por que “mas”? - queriam fazer o que bem entendessem. E a maturidade serve pra isso também.
Pode-se fazer o que bem se entender. É só se arrepender depois se alguma coisa sair errado; mas, deixar de fazer? Por quê? Não, vamos ver como é que é. Tudo. Tudo.
Claro que seus princípios faziam dela uma pessoa do bem, o tudo que ela queria conhecer é o tudo do bem. Mas de que bem falamos? Do bem da Igreja? Da religião? Da filosofia? Da psicanálise?
Em algum lugar deve haver como responder a isso da maneira mais breve possível, pra ela continuar sua história. Mas seu bom senso não a levaria à trilha do mal, isso era certo. Sem moralismos. Sem imoralidade. Amoralmente falando.

*********************************************************
A sua observação da vida, em especial da conduta masculina, veio mexendo com a cabeça dela nos últimos tempos. A antipática frase “o mundo é dos homens” começava a fazer sentido. Não que ela concordasse com essa história, mas sim porque se o mundo era mesmo dos homens é porque as mulheres assim permitiam. Sem essa de querer confronto. Mas o mundo poderia ser dos homens e das mulheres, como realmente é. Só que muitas mulheres vivem uma vida pequena, sem participar do mundo. As mulheres são mesmo seres de outra categoria. E quando conseguem ver espaço no mundo em que vivem e quando percebem que não é um espaço a ser conquistado, mas sim utilizado, se surpreendem com o tamanho que a vida pode ter. E, nessa hora, a mulher consegue ver além do universo masculino, com seus próprios olhos, e entende que o jeito masculino de ser é conseqüência de quem está em todos os setores da vida, não só dentro de casa ou dentro de uma relação monogâmica (porque poucas são. Se é que existe uma 100% monogâmica, incluindo presente, passado e futuro).
Os homens circulam pela vida pública e privada com a maior sem-cerimônia. Mas, olhando de perto, a maioria não tem esse jogo de cintura todo, não. Se você se aproxima de um deles com uma conversa assexuada, um tratamento de igual pra igual, como quem apenas se dirige a um companheiro de vida terráquea - sabe como? - , sem intenção nenhuma, sem caras e bocas, o cara fica meio sem jeito. Eles se vêem em um papel de “camarada”, de brother, diante de uma mulher. Mas depois da surpresa, se abrem, conversam. É, eles têm essa virtude. Sabem se adaptar, assumir vários papéis. Ser um amigo deles, é isso o que a mulher precisa aprender. A mulher precisa aprender a ser amigO do homem. E aí vai entender que a vida pode ser fácil, que pornografia não é violência contra nós e pode ser muito divertida quando partilhada, vivenciada ou apenas aceita como “coisa de homem” , como o garotinho que brinca com seu carrinho de lata, sua pipa. A pornografia substitui a intensidade e o carinho que nem sempre existem nas relações. Porque “só sexo” também pode ser bom. Mas a mulher vai sempre buscar mais envolvimento, mais cumplicidade, querer saber se aquele desejo e aquele tesão todo não escondem um amor verdadeiro …
E que ela não se assuste ao descobrir que era só aquilo mesmo. E que aquilo tudo não é pouco. E que há algo de sublime naquela luxúria toda. Os homens é que são meio desajeitados pra enxergar. Só isso. Paciência com eles. Cada um vive seu prazer do jeito que consegue.
A angústia passou, a depressão foi assimilada e devidamente digerida. Vomitada talvez. Mas e agora? Quando nada parece incomodar, quando tudo parece ser como deve ser, ou quando já se aceita que nem tudo é como deveria ser mesmo, fica o que no lugar?
Quando se entende que a vida é isso mesmo, é só o que fazemos dela e o que ela faz da gente, tudo fica fácil; o passo seguinte fica mais leve, e vamos dando um passo após o outro. Só mais essa ação, mais esse acontecimento. Um depois do outro, mas sem que o fim do caminho seja vislumbrado, porque não se sabe aonde vai-se chegar. Vai-se indo. Um dia após o outro. Cada dia vivido do jeito que tem que ser vivido, da melhor maneira possível, sem arrumar problemas para depois resolver - ou adiar, adiar.
Ano Novo, um marco que pode servir de inspiração para que a vida seja acompanhada mais de perto. Que os dias não escorreguem pelas horas, pelos minutos e segundos. E o que já sabemos que nos incomoda seja evitado.
E nesse ano tenho que parar de fazer dívidas, segurar mais o dinheiro para as verdadeiras compras que tenho que fazer: um computador novo, um ar condicionado, cortinas para sala e dois quartos da casa, pintura nova nas paredes, emoldurar a pele de cobra e as três gravuras vermelhas que tenho… Coisas que vão enfeitar meu dia-a-dia. Como hoje me orgulho do sol que brilha na minha parede, do baú de rodinhas, do bem estar que sinto na minha sala. Ah, uma televisão de 29 polegadas e um ar split para sala também estão nessa lista.
No mais, paz, saúde e amor. E muita alegria com meus filhos.
É, começo de ano é assim mesmo, tudo parece possível. Até ser feliz.

quarta-feira, novembro 27, 2002


Por quê?

Pior do que ser traída é ficar imaginando a cena do crime. O cara com a cara no meio das pernas dela, ela gemendo de prazer, ele olhando pra ela (e pensando o quê?; o que passou pela cabeça dele? Um "oba, que tesão"?; "humm, não sei se estou gostando..."; um "vamos lá amigo, precisamos disso"; um "sexo é bom e eu estou me divertindo"; "que buceta gostosa"...). Melhor parar por aqui antes de começar a imaginar o que ele teria verbalizado. Mas a tristeza em mim queria conhecer o que houve, estar lá vendo... Uma coisa masoquista em mim me diz isso e eu acredito... Tinha que ver a cara dele cheio de tesão metendo na outra (ah, desculpem os termos, mas sou uma mulher traída...).
Domingo passado tomei um chifre bonito. Briguei com o cara no sábado e no domingo ele detonou sua libido em outra. É, as carnes estão nervosas... Não senti ciúme quando o sujeito disse que tinha feito isso, mas senti uma tristeza... Como disse Spinoza, "a tristeza é a passagem do homem, de uma perfeição maior a uma menor." Ih, dessa vez a filosofia não pôde me ajudar. Mas contra a tristeza não há ajuda, só o que podemos é senti-la até que ela passe, ou se cale num cantinho ferido do nosso coração. Snif, snif. Sou uma mulher traída...

quarta-feira, novembro 13, 2002



Viajar na maionese. Essa é velha. Mas viajar em coisas é bom demais. Pequenos gestos, sorrisos, uma mão que segura um copo de um jeito especial, aquele cantinho da boca que sobe junto com aquela gargalhada. Os dentes que se mostram, um cheiro, ah, um cheiro. Hummm… Um sabor, gosto de fruta vermelha, de chocolate, de creme… Um aroma de café fresco, bolinho de fubá quentinho, baunilha, pão de queijo. Casa de roça, de vila, de gente feliz. Simplicidade. Contato de olhos, sorrisos de alma. Sabedoria especial para encarar essa vida triste que nos enfiam pela goela. A minha vida não é essa não, essa gente louca que está se matando não é da minha espécie. São do gênero mal, isso se sabe. Mas maldade também se faz com mãos limpas e consciências sujas… Dinheiro que envenena, que humilha, que acaba com o sossego de quem tem menos, de quem é mais fraco.

Tentativas

Tenho que acordar e sair. Se não morri, tenho mais esse dia. Ou esse acordar de hoje… Mais um dia, menos um dia.
Tenho de correr para a vida lá fora. Vida de semana. Vida de obrigações. De sorrisos amarelos.
E descubro que a realidade é poética em sua feiúra e em sua beleza.


Que infantilidade do ser humano não se desapegar da vida. Hoje chorei porque vou morrer um dia. E essa não foi a primeira vez.
Já chorei a morte dos meus pais, que ainda vivem. E a dos meus filhos, que há pouco chegaram aqui.
Chorei pela saudade que vou ter que sentir, pela dor e pela tristeza de um dia que ainda não chegou.
Vou vivendo assim, sofrendo em parcelas, chorando um pouco aqui, um pouco ali…
Por que não consigo me acostumar com a hora de ir embora e dar tchau a quem vai como damos as boas-vindas aos que chegam?



Não gosto de perfume doce. Fui ao cinema. A temperatura estava agradável, mas o cheiro era de mofo.
O filme já iniciara quando aquela senhora sentou-se na fila em frente a minha. Ela trazia um leque. Ao se abanar encheu o ar de flores. E tirou todo o mofo do lugar.
Fez-se primavera na sala de cinema. O ar condicionado virou brisa leve. E a hora virou poesia.


Preguiça de beijar qualquer boca e brincar de amor.
Se o buscamos ele não aparece.
Na pressa, ele passa sem nos olhar.
E somos nós que viramos a cara,
olhando para onde ele não está.


Sol no céu e nas coxas da mulher, que brilhavam.
A água secava dos pêlos dourados.
Deitada olhava essas coxas
Olhava a barriga
O colo
E me senti feliz e linda
Brilhando inteira ao sol.

Queria estar pronta para um romance. Para escrever um. Tenho até idéias, mas elas não formam uma história. São algumas frases, algumas impressões, pequenos monólogos, quase-ensaios. Mas juntas não são nada além de pedaços, ou pequenos inteiros que ainda não foram nomeados pela literatura. São como trailllers de um filme ainda não rodado, nem escrito. São chamadas de capa, títulos, olhos de uma matéria que a imprensa ainda não publicou. Algumas respostas a perguntas que não foram feitas por nenhum repórter. Algumas frases esperando a hora de ser usadas. Uma coleção de possibilidades aguardando sua vez…
Mas o importante é que continuo produzindo. Talvez se me juntasse com outra pessoa que gostasse de escrever… Ou que não gostasse, mas que pudesse me ajudar de alguma forma. Um personal trainer das idéias, das palavras, do texto… Sei lá. Aliás, acho que isso é vício de quem trabalha muito com as idéias dos outros, fazendo locução de textos alheios e revisando e editando matérias para uma revista de publicação dirigida… Penteio os textos, mexo aqui ou ali, dou voz a eles, mas o que é contado não é escolha minha.
Às vezes estou mais ligada nas idéias, às vezes na maneira de contá-las. Alterno minha atenção entre conteúdo e forma, priorizando ora um ora outro. Poucas vezes combinei os dois com sucesso… Mas foram poucas vezes de muito valor. Não busco quantidade. Sei que estou a caminho de algo maior, mais raro, uma conversa mais profunda, em que o estilo não tenha mais importância do que o que é dito, porque o que é dito por si só ocupa toda a atenção. Não quero palavras a mais, nem similares às que seriam ideais. Tenho que estar atenta ao conteúdo, que as palavras vêm. O que sinto é que o bom texto já nasce com as palavras certas, são as palavras que fazem dele um bom texto afinal, mas a habilidade em reuni-las não pode ser simulada. Pode-se melhorar o que é bom, mas inventar o bom a partir do nada parece impossível. Que venha a idéia, com seu texto e aí, depois de colados no papel, é hora de cortar o que sobra, trocar o que veio truncado. Mas já está quase tudo lá.
Bons autores já falaram que o bom texto não precisa ser muito mexido. Fernando Pessoa dizia sentir pena de quem tem que fazer poesia como um carpinteiro que trabalha a madeira para dela tirar a forma. João Cabral de Mello Neto disse o oposto, que escrevia, lia, relia e reescrevia várias vezes. Um de seus livros mais famosos foi escrito em nove anos, sempre com sacrifício, escolhendo as palavras, trocando linhas de lugar… Carpintaria.
Pelo que pude apreender, o resultado é o que importa. Alguns funcionam melhor espontaneamente, outros têm que trabalhar um pouco mais. Eu oscilo entre as duas maneiras… Mas sinto que é melhor quando o texto sai de mim como que psicografado. Palavras que não uso a toda hora, idéias obscuras ou esclarecedoras que não eram minhas até o minuto anterior… Mágica mesmo. Só quem já passou por isso sabe como é. Não é inspiração, é transbordamento.
E essas idéias às vezes vêm em horas que não tenho como anotá-las. Tento deixar uma lembrança para trabalhar mais tarde sobre o que intuí, mas na hora de retomar, não flui do mesmo jeito. E às vezes o texto vem pronto, mas muito veloz e não consigo digitá-lo, nem falá-lo… É quase assim
No mais acho que não disse nenhuma novidade. Foi mesmo um desabafo sobre o bom e o ruim de quem pretende escrever. Mas vale a pena de alguma forma. Nem que valha só para mim. É uma maneira de fazer alguma coisa com o que eu penso. Um jeito de por pra fora o que me faz ser quem eu sou. Uma conversa diferente comigo mesma.
Melhor do que escrever só ler um texto bem escrito. E se o conteúdo me alimentar a alma, melhor ainda.


P.S.: Sobre estar pronta para um romance, Marina Colasanti em entrevista a uma amiga minha disse que o romance não é o topo. Não há uma hierarquia entre os estilos, há os que fazem melhor poesia, outros são feras do conto, do ensaio; o romance não é para todos que escrevem. Cada escritor tem sua linguagem… Ela, pessoalmente, não pensa em escrever um romance e está feliz com o que vem criando.
Se ao menos eu pudesse definir o meu estilo… Aforismos? Pedindo licença a Schoppenhauer...

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