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Trechos, textos e trecos

domingo, setembro 28, 2003

Fazer o que você sonha caber na sua vida

A depressão pode ter acontecido porque você não está satisfeito com a sua vida. E quando ela acontece não dá mesmo para estar satisfeito...
Você se sente mal com o que tem feito, com o que não tem feito; é isso. São várias coisas que podem estar te perturbando. Mas quando você segue seus planos, se adapta ao que a vida te dá, altera seus projetos de um jeito que seja possível realizá-los, você se sente no controle.
Eu estou bem. Porque estar bem é assim, é se sentir bem do jeito que dá, do jeito que as coisas estão e não aquele estar bem da fantasia, perfeito. Eu me sinto bem, porque estou em dia com meus projetos, fazendo o que planejei dentro do que as circunstâncias me possibilitam sonhar. Estou indo em frente, vivendo com menos ansiedade, sem pressa, aceitando a rapidez da vida e a lentidão do dia. O tédio e o remorso... O efêmero e o que não acontece. Essas questões eu pus de lado agora. Estou me dedicando a fazer o que tem que ser feito. E tenho feito. E tem sido ótimo resolver meus problemas. Assim me sinto no controle.

As pessoas usam a palavra depressão sem cerimônia nenhuma. Acham que qualquer angústia, qualquer mal estar existencial, qualquer decepção é depressão. Depressão não é tristeza, não é ser sensível, não é emotividade fora de hora, não é um monte de coisas parecidas com o que lembrei agora. A depressão não pode ser definida assim, de qualquer jeito, e não se deve brincar com ela. Ou melhor, se você está conseguindo brincar com ela talvez nem esteja deprimido. Não se preocupe em diagnosticar sua tristeza, se a vida está chata, aceite que a chatice faz parte da vida, e nem todo dia faz sol. Mas a qualquer momento você poderá se sentir melhor, mesmo sem estar preparado para isso. Na verdade, basta fazer as pazes com a vida, aceitar sua condição de pessoa comum, com uma vida comum, de beleza comum. E isso já é o sonho de muita gente. Uma vida simples e comum.
Temos que parar de maldizer a vida que temos, de resmungar contra o cosmos. Podemos começar a realizar nossos projetos hoje, daqui a cinco minutos, nesse instante até. Se você pensar no que tem que fazer para pôr sua vida em dia e começar a resolver seus problemas, vai tirar um monte de entulho do caminho e começar a vislumbrar um futuro. Vá abrindo espaço, como a draga que retira a areia do caminho... Vá arrumando seu mundo para você acontecer melhor. Não adianta ficar triste, deprimido, cansado de viver. Descanse, se alimente, se banhe, se arrume e comece a fazer o que tem que ser feito; o depois vem com o tempo.
Acho que ser feliz é uma forma de humildade, a forma mais sábia, talvez. Conseguir ser feliz é mudar o conceito do que é felicidade. Você pode ser feliz daqui a cinco minutos, se quiser. Não precisa pensar em todas as mazelas que você não tem e minimizar todas as que você tem, isso é se chamar de burro. Mazelas, todos temos; o importante é saber viver sem que elas te incomodem mais que o suficiente para que você as extermine. Não arrume novas mazelas, resolva o que pode ser resolvido e volte o olhar para o que pode ser criado agora para te fazer mais feliz.
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Estranho constrangimento

Ah, se eu soubesse sambar. Talvez expressasse assim meu contentamento com a vida. Por que deveria me contentar, ou por que não deveria? Tenho que esperar que a vida ande para todos para me sentir feliz de viver? Por quê? Deveria ficar constrangida de ser feliz? Deveria me excluir do mundo para me sentir bem em quem sou? E onde a felicidade seria possível? Na estratosfera? No éter?
Tem gente que pensa que a felicidade é possível no álcool, no sexo rasgado... Seres sempre predispostos à autodestruição. Surgindo uma oportunidade... Se ela não surge, acendem um cigarro e criam mais uma chance de se impregnar de morte ainda em vida. Isso pode não ser felicidade para mim, ou para mais alguém que sinta todos os autênticos sabores ruins que a vida permite, como quando alguém tem que nos deixar por expiração de seu próprio tempo de existir ? prazo estipulado sabe-se lá pelo que ou quem.

Se tudo passa, a vida vai junto e isso não deveria ser de se estranhar. O que é estranho é que o ser humano seja tão infantil quando o assunto é morte. Se foi com o vizinho, se lastima e segue-se o tempo. Se foi perto da gente, fica estranho o confronto com o tempo expirado. Sei não.

Outro dia meu pai, aos 73 anos, disse que está na marca do pênalti. Olhei para ele totalmente sem ter o que dizer. Ele que já enterrou a mãe, a irmã mais nova e agora assiste como médico e irmão o irmão também mais novo mal da saúde... Não sei como poder dizer ao meu pai que ele não está na marca do pênalti ? se eu mesma me sinto assim desde que me dei conta de que sou mortal; desde quando sofri com isso pela primeira vez, lá pelos meus 13 anos de vida.
Pai, nem você pode mudar isso. A morte sempre faz gol quando o assunto é a vida, seja a sua, a minha, a do pincher que a gente teve e nos deixou aos 12 anos... Seja até com o meu filho, que já chegou ao mundo quase se despedindo e a gente conseguiu segurar na vida até hoje. Estamos todos vivendo na extensão, já que a morte é sempre chegada (ela é nosso pior credor). O que posso te dizer é que te choro desde já, desde que soube que a vida é assim. São chegadas e partidas de pessoas que vivem o suficiente para esquecer que têm que pagar a vida com a morte, e que quando já começavam a nem ligar para isso começam a ter que ligar por decurso de prazo.
O que dizer quando as palavras faltam? Quando somos ineptos para explicar o que não queremos acreditar? Não queremos acreditar nunca que teremos que nos separar do outro que amamos. Que teremos que nos separar da vida uma hora qualquer. Na nossa hora.

Epicuro falou bem sobre a morte, quando a explicou como não sendo nada para quem vai, que se já não vive, também não lhe sente o peso. O peso fica em nós que ficamos aqui.
Se muito já foi dito sobre a morte, não preciso dizer mais nada. Mas digo mesmo assim, porque morte é assunto que nunca se esgota.
Quando você for, quem vai morrer sou eu, já sinto, nem que seja morrer de tristeza. E isso basta para explicar pobremente o que nem toda riqueza conserta. Porque quando o assunto é morte, a gente nunca fala melhor que a tristeza que nos cala. E é assim que tem ser.
Ninguém pode falar melhor de morte que a própria morte. Ela é sempre soberana. Quem pensa que não, espere e verá.

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