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Trechos, textos e trecos

segunda-feira, janeiro 12, 2004

Não me esqueci


Que ninguém me lembre que eu sou mulher
Sei disso
Que ninguém me diga que mulher eu devo ser
Eu escolho


Só nos lembram que somos mulheres
Quando não podemos alguma coisa
Mas não somos loucas?
Esqueceram?
Se somos loucas, podemos tudo

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Poesias da idade



Coisa mais chata ver a decadência
do corpo no espelho
E isso não é poesia


A beleza da juventude
me põe a nocaute
em qualquer esquina


Minha beleza me custa
cada vez mais caro
Dói no bolso e na alma


Não me acostumo a estar acabando
Vejo meu corpo consumido pelo tempo
Sou eu me descorporificando
Virando morta
É o começo do fim – já sinto


Meu corpo inteiro reclama de existir
A pele resseca, o tempo traça linhas,
o cabelo perde a cor,
os olhos nem sempre brilham,
os dentes amarelam meu sorriso



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Vida dura e sem sentido,
que não nos permite sentir tesão no meio do dia
Soldados autômatos
de um cotidiano irreal,
de tempos surreais
E isso ninguém explica,
já que explicar complica
E é nada mais que
pura tristeza
E quem já sentiu conhece


Em pleno trânsito
tentamos esquecer quem somos
e fingimos ser felizes
no meio do concreto
e da violência



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Amo ele todo



Eu amo tudo nele.
Amo o polegar,
o sorriso largo,
os olhinhos apertados quando ele ri,
aquela ruguinha no canto,
a cicatriz da bochecha.


A mão toda, que me toca toda.
A boca toda,
que me beija toda.
O seu corpo todo, que me ama toda.
Estou viva e sinto isso. Que bom.


Nele amo até o que faz falta.
Os defeitos.
Por quê?
Porque amo-o.
E esse é ele;
não outro que não existe e eu invento.

E daí? 

Errei homens, errei muitos homens. Paguei preço alto por mercadoria barata. Experimentei quem não teria passado pela primeira impressão. Fui em frente, pulei obstáculos, atropelei alguns princípios meus para poder saber o que tinham os que eu não desejava. Precisava de umas carnes, sentia falta de um abraço forte, um corpo junto do meu, um beijo bom, sexo com algum tesão. E achei que fosse conseguir onde não havia ainda procurado, nos homens errados. Podia não ter dado o primeiro sorriso incentivador de aproximação, não ter chegado meu rosto pra perto dele, não ter sentido aquela respiração, o ar quente dele na minha boca, podia não ter fechado meus olhos, não ter seguido em frente como quem fraquejava. Deve haver alguma explicação para as escolhas insensatas que fiz, mas eu sempre consegui aproveitar alguma parte delas. Serviram de coragem para novos erros. Algum entusiasmo da carne sempre havia. E por que não? À certa altura até foi bom, quando já não questionava minha escolha e apenas sentia as mãos, o corpo, a boca errada em mim. Alguma sensação eu senti. Sofrimento vitorioso de quem fazia o que escolhera fazer; aquele gosto do premeditado realizado. Os homens comem qualquer uma que passa e ninguém repara, agora, as mulheres... A gente erra de homem sim, e daí? Pior seria não reconhecer o erro e defendê-lo como se acerto fosse. Não eram homens dos quais me orgulhasse. Um deles é gente boa e acredito ser de algum valor, mas não me serve. Só passamos duas noites juntos; não houve tempo para intimidade verdadeira, mas o potencial era grande. O potencial e o que você está pensando. Um outro não evoluía tão bem, mas me deu algum calor na cama - não nego -, nada que me tirasse de mim, é verdade. Chego a achar engraçado que outras mulheres se interessassem por aqueles homens que eu tive sem muita disposição. Será esse meu querer quem não me atrai uma rivalidade feminina tosca? No meio do caminho tudo pode mudar. O que parecia ruim muitas vezes foi bom. Pra que complicar? Quando o motivo é sexo, qualquer desculpa se aproveita. Uma oportunidade interessante e estamos lá. Nem sempre foi assim, no começo eram só tesão e timidez. Uma moça bonita, mas vazia de si. Depois foi tempo de aprender, de curiosidade e de aproveitar o momento. Os momentos. Mal dava tempo de viver aquilo tudo. Mas quando queria sexo ou aventura, sempre tinha a quem recorrer. Desculpe a falta de modéstia. Hoje ainda conservo essa fome. Mas não pratico tanto. Nem comigo mesma. Sublimo lendo filosofia, psicanálise e literatura. Construí muita memória. Fiz algumas loucuras só pra me lembrar depois. Ainda bem. Quando vejo que estou sozinha, saldo de algumas uniões fracassadas, penso que só podia ter sido assim mesmo. Nunca liguei muito para os sentimentos dos companheiros,parceiros, comparsas, e nem para mim, eu acho. Fui vivendo como quem improvisa sem muito cuidado.Quebrei a cara algumas vezes. Estou inteira de novo.



       Cansei de racionalizar minha negligência comigo mesma; pus fim`aquele namoro. A agonia cresceu até ficar insuportável. Queria estar sozinha, pensando, vegetando, deprimindo, existindo do jeito que desse. Eu me sentia roubada, me sentia uma fraude de mim mesma quando estava com ele. Era uma relação esquisita, não era autêntica com seus sentimentos, era a maior violência que já havia cometido comigo. Caso terminal de auto-sabotagem.
     

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