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Trechos, textos e trecos

domingo, maio 16, 2004

É preciso coragem para se despedir. Tá feito. Ele veio perguntar por que eu estava assim... "Assim", como? Não que eu não soubesse, mas tinha que ter certeza da reclamação dele.
Eu tinha dado uma brochada em viver, e isso é coisa que volta e meia se repete quando fico querendo que as coisas façam algum sentido. Cansei de forçar um personagem feliz pra ele, uma parceira amorosa. Nosso relacionamento durava dois anos e meio, aos trancos e barrancos. Afinal, a tendência é ruir, estamos sempre indo em direção à podridão, é o ciclo da natureza. "Tempus Edax Rerum" - o tempo a tudo devora. Ele queria que eu me explicasse, que eu dissesse o que aconteceu. O que teria acontecido? Teria eu resolvido me entregar à verdade, simplesmente? Teria eu apenas sucumbido ao fim da relação? Detesto essa conversa sobre relacionamentos, mas fico ainda mais perplexa quando o que não é dito em palavras seja mais eloqüente que tudo o mais que eu pudesse dizer. Eu tinha lido uma frase de uma amiga que adorei: "Quero muito ser feliz... Mas dá uma preguiça". Ela não era a única. E eu não podia continuar aquela história preguiçosa. O cansaço falava através de mim. Tentei não produzir um texto pra dizer a ele como me sentia em relação a nós dois. Mas doeu. Dói ver alguém que te ama percebendo que está te perdendo, sentindo que já não tem mais lugar na sua vida e pedindo que você confirme essa suspeita assim na lata, sem anestesia. Não estava podendo anestesiar nada naquela hora. Não ia dizer que ele era a pessoa certa na hora errada; que não era ele, era eu; que eu não queria fazê-lo sofrer. Não, essas frase todo mundo diz. Mas servem para essas ocasiões, como dizemos "meus pêsames", "meus sentimentos" quando não temos o que dizer para alguém que perdeu um amigo, um parente, um amor. Quando o amor morre, o que podemos dizer? Que a vida é assim mesmo, que vai passar? Logo eu que trabalho com as palavras fiquei sem saber quais usar. Não posso estar com um homem como quem brinca de namorar, como quem quer apenas uma carne quente para a batalha da cama e do orgasmo. Não quero um vibrador humano, um boneco inflável vivo. Foi triste ver a decepção no rosto dele. Eu fiquei com a voz embargada e os olhos marejados. Ele viu que era sério. Mas ele não pôs um ponto final, veio tentando repetir o que sempre dizia, que achava que ainda valia a pena. E eu sem saber dizer que não queria mais. Queria que a relação terminasse por si mesma. Já falamos sobre isso. Não era o caso de mudar, nem de me adequar. Era o fim, a fechada de cortina. A luz apagando. E só. Levantei, peguei minha bolsa e olhei pra ele sem dizer nada. Andei até a porta, ele abriu e saí. Não
olhei pra trás. Fim. Às vezes a vida é teatral.

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